quarta-feira, junho 26

Um pensamento sobre não saber nada.

A treva inusitada
Que se abate sobre
Mim não é em nada
Discreta ou leve: é como
A essência da noite maior,
Como a própria alma da escuridão,
Irradiada de sombras bailarinas,
Superpopulada de estéticas insones...

Em nada
Do seu todo
Ela é leve ou discreta,
Ao contrário, é profunda
E natural e me condena sabiamente
Ao espanto de perceber que estou
Sozinho no escuro ao qual nenhuma
Luz pode dominar. Ah, essa treva é o prenuncio
Do breu total que está por vir e do qual
Eu não posso me livrar! A escuridão da qual
Ninguém pode fugir, a escuridão que vem para
Engolir a tudo e não se chama morte, porém ignorância.
Eu sou o ignorante maior que há, e saber isso é como
Uma carne se rasgando em mim e me causando
Hemorragias impossíveis de serem estancadas...

Não decifro,
Em meus gestos pequenos,
Utilidade qualquer para qualquer
Coisa que me cerque nesta realidade:
Se tomo em mãos uma pedra e penso
Como é possível que seja palpável e estranha
Como é, ou se cheiro uma flor ou observo
Um inseto que se perde em matas de um jardim
É esta a dor que há em mim e me desloca de tudo,
A dor que não me permite participar da felicidade
Alheia e que me dá desgosto em tudo aquilo
Que eu penso, dor inexplicável de não saber
Nada da matéria presente ou do espírito suposto.

Onde procurar? Dentro de mim mesmo
Existe um mar salgado que devora
Todas as possibilidades do que planejo
Como uma embarcação de marinheiros
Felizes por estarem retornando à casa,
Porém nunca chegarão: minhas perspectivas
Foram levadas ao fundo das ondas raivosas
Onde morreram, e em breve boiarão
Até a decomposição necessária
De tudo o que existe.

O que me resta?
Me cansam as suposições
E opiniões dos grandes gurus
E dos autoproclamados príncipes:
Escolho para mim,
Por ser meu direito inegável,
O silêncio como asas que me levem
A um lugar infinito e denso
Onde deus se chama
Serenidade...

domingo, junho 23

Elegia de um bêbado ferido

Consciência absurda
De haver luz e matéria
No possível caminho:
Anseias por algo que não
Existe senão na tua doce
Capacidade de sonhar!
E te arrastas por ruas
Inimigas, seguido por sombras,
Lacaio e carrasco de ti mesmo,
Trôpego, atrativo ao olhar infame
Dos zombeteiros de plantão. Ai!
Ai, criatura solitária, onde foi que
Te machucaram com violências
Desnecessárias para que manques
Qual um aleijado de nascença?

Bem se vê que estás ferido, manchado
De sangue teu fato, respingado de urina
Teus sapatos de pobre. Nada é útil nesta
Rotina incessante que só pode acabar
Em morte, pois que a morte é o final
De todas as coisas: por isso é que bebes
Todas as bebidas entontecedoras do mundo
Com a voracidade de um rapaz virgem
Nas tetas de uma prostituta velha e má.
Estás bêbado! Bêbado de ti mesmo
Enquanto caminhas por estas ruas
Inimigas, enquanto tateias os bolsos
À procura do maço de cigarros amassado
Que já fumaste todo, mas não te lembras.

Bem se vê! Estás realmente ferido! Ai!
Levaste uma facada impiedosa e legítima
E do ferimento cruel jorrou purabebedeira!
Ai, as expectativas te traíram em um beco escuro
E com uma lâmina de fio preparado foi degolado
O teu futuro, todavia ainda assim tu vagas pelo mundo
Como quem esteve em uma festa até o sol raiar
E pretende voltar pra casa enquanto é guiado
Pela embriaguez de pés que dançaram a noite toda
E agora estão cansados, muito cansados e não sabem
Ao certo qual o caminho que devem seguir por seguir...

Estás ferido, mas deixe estar! Caminha o quanto podes,
Queima o todo de ti que a tua ainda hemorrágica persistência
Permitir, esgasse o mundo à força para encaixar todas as peças:
Só não morra antes da hora, caminhe! Quando o momento chegar
Sem mistério ou dificuldade, acharás um canto qualquer no espaço
Onde te deitarás enfim e deixarás, exausto, que as coisas se ajustem
Por elas próprias.

sábado, junho 22

Dois pensamentos engasgados

I

As coisas todas
Que eu preciso dizer
Porém não digo
Me descem atravessadas
A garganta como um gole
De água mal bebido.
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Como um suspiro
De alívio instantâneo,
As coisas que eu, contudo,
Não digo, ah,  me são um peso
Que só cresce sobre si mesmo
E se acumula incessantemente,
Gota a gota, na cisterna de mim mesmo.

Água infiltrada de meus sentimentos úmidos,
Bolores e mofos de meu ser entregue
À solidão dos cantos e das rachaduras,
Degeneração que só cresce alimentada
Pela solidão que eu sinto por não ter ninguém
Para expor os sentidos do meu nexo
E minhas ânsias de macaco esperto:

Não existe a possibilidade de estar acordado
Sem ser solitário! A senciência dos seres meus
Irmãos sempre destaca a solidão que existe
No pensar e digerir a realidade que nos cerca,
Mas não sabemos desde onde ou quando!
Ah, as coisas que eu quero e preciso dizer,
Mas não digo por não saber como: Ah,
As coisas que eu queria dizer são o veneno
Que eu beberei para morrer e me aquietar...


II

Não direi
Que o silêncio
Me estrangula
Como dedos longos
De duas mãos frias e brancas
Chamadas morte e haver de morrer...
Não direi!

Não direi. O silêncio
É natural como o final
Da vida. O silêncio
É natural como
O silêncio do final
Da vida. O final
É natural como
O começo...

Haja um hálito
Qualquer em mim
E tudo o que poderei
Fazer é agradecer
Silenciosamente
Como os animais
E as plantas a dádiva
De viver e morrer.

quarta-feira, abril 10

Quatro pensamentos sobre a solidão

I

Me sinto
Muito e me sinto
Muito cansado.
O cansaço, na verdade,
Que me desloca rudemente
Deste mundo, talvez
Seja só um fruto
Imaturo da minha
Solidão: quem
Alguma vez não sentiu
Solidão o suficiente
Para somente pensar
Em dormir? Não me animo,
Não há disposição... Amo
O mundo, mas é difícil
Quando me vejo sozinho
Em meio a uma tropa
De solitários. Onde
Está meu outro lado,
Cúmplice, a me entender
Cada gesto do meu corpo
De mistérios?


II

Ouvi dizer
Que é composta
Da mesma matéria
Que os sonhos essa tal
Realidade. Pois bem!
Se é assim, vou seguir
Feliz e esquecer
A solitude e o abandono,
Vou seguir como uma nuvem
Branca que se fragmenta
E se transforma e depois
Se desintegra... Serei
Análogo a tudo que gira
Na roda infinita do natural:

Se surgires,
Meu amor, meus olhos,
Meu templo e meu abismo,
Serás a glória dos meus dias
- Caso contrário, serás apenas
A felicidade que eu nunca provei
E que sempre me fez falta.

III

Mas e essa outra
Pessoa que, dizem
As más línguas, me
Habita o corpo
E o ser, que me fala
Ao ouvido como um grilo
Poliglota (sabe a língua
Das aves, dos riachos,
Dos ventos e da geada,
Sabe a língua da beleza
De pensar sozinho),
Não me é ele companhia
Suficiente? Não me agrada
Ouvir o que me diz quando
Diz que tudo vai dar certo?

Nada sei de mim... me procuro
Sempre nas outras pessoas
E coisas, porém não encontro
Senão sombras de tédio - se eu
Tenho sede, tenho a sede
De um deserto.


IV

Eu queimo,
Estático e brilhante,
Como uma estrela solitária,
Sem planetas à orbita,
Promessa de buraco negro,
Beleza degradada de tristeza.

Venha, outra luz
Quente, que eu quero
E mereço teu corpo todo,
Venha para queimar rápido
Comigo enquanto durar
O combustível dos nossos
Sonhos, a chama dos nossos
Olhos, o ardor doce dos nossos
Pelos e peles em atrito inflamável:

Venha,
Que a minha luz é meu fogo,
E meu fogo não quer arder
Sozinho.

quinta-feira, abril 4

Dois pensamentos sobre a brevidade da vida

I

Há algo que me diz
Que eu tenho pouco
Tempo. Seja hoje,
Seja daqui há noventa
E nove anos, qual a diferença?
Preciso achar em mim mesmo
Forças para trabalhar como
Se não houvesse
Morte.

E, talvez, não haja:
Vi, no corpo morto
De uma ave triste,
Vermes e insetos
Que viviam... Onde
Começa e onde
Termina a vida?

No meu esforço,
Na minha memória?


II

Meu testamento
Secreto só entenderão
Aqueles que sabem ler
Com a alma sensível,
Com os olhos divinos,
Com o prazer do intelecto:
Tudo é livre, a vida é linda!
Só entende isso quem percebe
A morte, só capta a essência
Quem entende que a finitude
É um princípio. Essa é a minha
Palavra: a morte virá como sono
Inevitável da criança que brinca
Tarde da noite em uma festa
De adultos e depois se entrega
Ao cansaço e dorme em um banco
Qualquer sem se importar com
O barulho...

Não existe problema
Que o sono profundo e último
Não abafe. Deixem que a morte
Chegue: eu vivo!

Dois pensamentos sobre a necessidade da arte

I

Expressão,
Expressão é
A salvação!
Sinto urgente
Explodindo em mim
A necessidade pura
E avassaladora de dizer
Que tudo o que vejo
Em minha volta é
Muito estranho. A verdade
É que a realidade
É muito estranha.

Estou inserido
Em um circo de horrores,
Preciso comunicar
- E alguém me lerá
E dirá: "- Hei! Me sinto
Imerso em sonhos também..."

E eu direi: Obrigado. Agora sei
Que nunca estive sozinho...


II

Tenho a necessidade
Do belo quando sutilmente
Me expresso: toda poesia
Que escrevo é um belo
Pedido de ajuda... Tenho
Carências que ninguém pode
Matar, e é destas dores grandes
Que nasce a arte.

No fundo,
Quem se expõe
Só quer encontrar
Outros que se expõe
Também. Isso é a arte:

Uma carta em branco
Enviada a esmo
Pelo correio
Do tempo.

Dois pensamentos sobre a participação

I

Não sei se é
Mais forte o meu amor
Pela vida ou o meu medo
De morrer e me nulificar.
Não sei... O que me ocorre
É um sentimento de querer
Contribuir com o todo, com
A raça, com a essência
Da própria existência.
Contribuo: cada movimento
E cada clarão, cada suspiro
Ou cada sonho - cada molécula
Do que sou acrescenta experiência
À realidade nunca estática
Que me inunda e me cerca...

Se há um fim ou um
Começo no infinito
É que é um grande
Mistério.


II

Ativamente,
É com minha arte
Que contribuo
- Porém o faço
Naturalmente como quem
Se espreguiça ou respira
Ou sonha sem nem ao menos
Perceber o que faz.

Contribuo: conto,
Em poesias filosóficas,
Tudo o que registra
Minha mente pequena
E triste, meus olhos
Mais do que estáticos.
Contribuo... Escrevo o que
Sou, me exponho esperando
Que minha nudez atraia outras
Solidões amargas como a minha...

Eu  morrerei, mas minha arte
Viverá por mim.

Dois pensamentos constrangidos diante do todo

I

Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.

Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.


II

Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?

Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.

Três pensamentos sobre lealdade

I

Muito cedo
De uma manhã
Sem data, luz
Dourada toma o céu
E há brisas ondulando
Os matos: caminho,
Solene, observando o mundo
Com olhos atentos, fumando
Meus entorpecentes
Cigarros de solidão
- Até que este cão ruivo
E furtivo se interessa
Por meus passos e os segue.

Não o impeço,
Não o enxoto.
O que me toca, na verdade,
É saber que existe alguém
Sozinho o suficiente
Para querer minha companhia...
Obrigado, cão, e até
Nunca mais...


II

Ele pára
Em uma esquina
Desimportante e olha,
Com a atenção canina
Dos guardiões fiéis
E dos amantes devotados,
O ar qualquer que passa,
Olha o véu invisível e óbvio
Do que existe do outro lado
Da realidade: olha em um segundo
Tudo o que miro mas não consigo
Enxergar. Não sei o que viu...
Saiu correndo, farejando alegre
O mundo para nunca mais, senão
Em sonhos que falam sobre tudo
O que significa lealdade. Sigo,
Não dou atenção à vida que
Se desenrola... Obrigado,
Cão, e até nunca
Mais.


III

Por guiares
Meus passos bêbados
Como um amigo, por guiares
Meus passos pela manhã
Esnobe, sabendo que amanheci
Na festa, que amanheci sem ter
Anoitecido, que amanheci amargurado
Pelo meu amor de festa que não me ama,
Que amanheci pronto para a dor
De não haver dormido por não haver
Sono: obrigado, cão, e até nunca
Mais! Obrigado pela água que não
Te ofereci, pelos afagos que não
Te dei, pela poesia que me deste.

Obrigado, cão:
O que fica de ti não é
Bem um nome ou uma paixão,
É algo ancestral, contudo
- É algo que lembrarei
Enquanto houve
Calor em mim.

Dois pensamentos de amor em uma manhã silenciosa

A. Loise

I

Acordei
Bastante cedo
No dia de hoje.
Acordei como quem
Vê um clarão de luz
E não pode distinguir
Outras formas, pois
A claridade inunda tudo
E se ocupa de todos
Os espaços:

Acordei num salto,
Entre suspiros,
Fugido de um sonho bonito,
Jogado de volta ao meu corpo
Para me perceber meditando
Teu nome desde a primeira
Consciência do dia...

Alguns romantismos me são naturais
E  imutáveis e minha razão não é do tipo
Que costuma gerar lucros...


II

Te penso
Incessantemente,
Numa fixação absurda,
Maníaca, que me arrebenta
De dentro pra fora:

Te penso, mas nada
Te sei. Não me foi dado
Sequer saber de mim,
Que sei eu dos outros
E do mundo dos outros?

Sei o que minha alma
Sensibilíssima sente,
E o que ela sente quando
Te farejo perto é o ápice
Do gozo, é tudo o que preciso
Saber e me interessa - que tu
Sejas a sem passado: que tu
Sejas minha e minha melhor
Criação.

domingo, março 31

Dois pensamentos sobre eu ser

I

Tenho em mim ímpetos
Poderosos e selvagens
Que dificultam verdadeiramente
A minha convivência,
O meu argumento,
O meu hálito
- O que é isso tudo
Não é tão importante
Quanto tudo o que sou
Simplesmente, pois que sou
Consciente:

Abro a janela do quarto
Que são meus olhos
E miro com competência
A luz do dia ou o mistério
Noturno, pois que sei
Eximiamente bem que é
Toda a paisagem desenhada
Para mim.


II

Há momentos
Extremamente arcanos
Onde o silêncio que paira
No ar como uma pluma inocente
É tão leve e tão frágil que é
Possível perceber todo o cenário
Montado, a atuação das árvores,
O ensaio das nuvens:

A vida
É uma peça
De teatro desenrolada
No palco absurdo da realidade
De haver tempo e espaço dentro
E fora dos deuses, de ser possível
Respirar e supor e dançar
E criar com isso uma arte
Chamada consciência
E, somente então, esbarrar
Na verdade que é profunda,
Pois que diz que o momento
É tudo o que há - e isso
Faz com que todo o medo
De errar morra...

Dois pensamentos saídos do fundo de uma garrafa

I

Não há nada
Como um vinho
Sobre a mesa triste
Da minha sala esquecida
Para acompanhar meus cigarros
Enrolados de solidão e medo.

Não há nada:
O vinho é barato,
O barato é proibido,
A vida é solidão e eu,
Na esperança que o esquecimento
Traz, me escondo e tento furtivamente
Não pensar.

Não penso, sinto.
Não falo, escrevo:
O que restar de mim no mundo
Será beleza impulsiva encharcada
De embriaguez.


II

Ave, uno primordial!
Ave, cosmo, ômega,
Alfa! Ave, deus ou
Seja lá como chamo
A causa motivo de toda
Essa comoção chamada
Realidade: ave!
Ave, que vou me embriagar
Até encontrar novamente
O seio divino e calmo,
Ave, que quero o mundo
No meu colo, ave:

Deixe que eu te encontre,
Deus dos deuses, no fundo
De uma garrafa, na maldade
Solitária de um cigarro,
Na penunbra perdida
Desta noite que imita
A morte. Eu vou me embriagar
Até que me arrebate
A dormência de um sono
Inesperado...

sexta-feira, março 22

Três pensamentos sobre a tua geografia

A. Loise

I

Teu sorriso
Me toma inteiro
Sempre, e me abala,
E me constrange
E me estremece:
Teu sorriso
É um terremoto
E eu sou o templo
E o altar de mármore
Se desmoronando cálidos.

Teu sorriso
É o vulcão
Em erupção
No meio da madrugada,
Eu sou o vilarejo
Adormecido tomado
Pelo calor inabitável
Dos teus lábios incandescentes
De magma.

II

Teus seios
Desbravei com calma,
Como um andarilho
Alegre e despreocupado
Que se deixou à beira dos bosques
A beber sumos e observar
As colinas, e por observar
As colinas sutilmente possuiu
As colinas e toda a vida sublime
Das colinas suaves e mornas
Nas palmas das mãos:

Ah, que saudade!
Eu cheirei a flor tóxica
E perfumadíssima do teu ventre
Como um prado abandonado e belo
E me viciei para a vida
Toda.


III

Oásis,
Se a solidão
Humana é um deserto,
É o teu corpo, abundante,
Repleto de sombras amigas,
E minhas mãos todas são agora
Manadas de animais sedentos
Que são sutis e mansos
E viris:

Oásis é teu corpo,
E eu sou um touro coroado,
Couro negro sob o sol imenso,
Levando à boca aquilo que em ti
Me sacia e me sustenta,
Farejando nos teus pastos vastos
Oportunidades de abundância
E conforto enquanto durar
Essa vida rápida
E salvagem...

terça-feira, março 12

Dois pensamentos que morrem de saudade

                                                                                                                                                      A. Loise


I

A primeira
Vez em que provei
Tua carne com gosto
De ternuras e abraços,
De um olhar certeiro
E um beijo errado,

A primeira vez
Em que provei tua carne
Foi em uma orgia
- E todos abusavam
Sossegadamente
Da gentileza do vinho
E da suavidade do cânhamo
E da libido de outras drogas
E outras paixões:

Até a primeira vez
Em que provei tua carne
Meu corpo não sabia
O vício.


II

Entre
Saldos mal
Calculados
E dívidas amenas
Nesta permuta eterna
Que é as relações humanas,
Não consigo sequer mensurar
O que ganhei e o que perdi
Quando me dei inteiro à suada
E esnobe energia do teu corpo,
Mas não me importo, de forma
Alguma, em investir tudo o que sou
Na contemplação da luz do teu sorriso:

O que lucrei
Quando vi a clareza
Das tuas curvas desnudas
É só meu e não merece
Reembolsos...

quinta-feira, março 7

Dois pensamentos solitários

I

Há um algo estranho, bem faz uns dois ou três
Ou quatro dias, que me vem oprimindo misteriosamente,
Que me vem moendo os ossos aos pouquinhos,
Que me coça e eu nem sei aonde, que me perco
Sem nem sair do meu lugar:

Há algo muito estranho, é verdade, nessa sensação
Estranha de se sentir sozinho, de ser humano e estar nu
Diante dos olhos estrábicos do destino e da vontade,
Na boca morta do épico ou no canto morto do medíocre,
Na previsão da morte que virá, que virá certamente
Certeira, com certeza, que virá para todos nós
Como um tiro dado no escuro, como uma onda imensa
Que arrebata a areia e os castelos esquecidos na orla
- E eu sou uma criança perdida num dia arejado e dourado de sol
Brincando deveras na beira do mar, criando covas nas dunas molhadas,
Enterrando conchas como se fossem lembranças,
Olhando nuvens como quem se separou
Do tudo.


II

Se eu me separei de tudo, do todo, do cosmo ou
Seja lá como quero chamar essa coisa da qual sinto
Saudade e não sei explicar: tenha um nome ou não
Sei que um pedaço de mim não está em mim,
Ou talvez eu seja um caco pequeno
Que sente falta de um corpo maior,
Que se oprime por ser consciente
De tudo isso, de que há tragédia
E comédia e outras sutilezas
Em ser humano

- Que a solidão é verbo,
E toda a vida que nasce
Tem uma irmã gêmea
Chamada morte.

terça-feira, março 5

Dois pensamentos de gratidão

I

Às vezes
Reclamo de barriga
Cheia, como quem nunca
Tivesse provado um momento
De glória e de candura...
Me contradigo... Eu sou o rei
Da contradição: do amor
Mais profundo, em verdade,
Em verdade vos digo
- Já bebi os sumos mais
Doces, já provei a polpa
E me lambuzei o focinho,
Animal de coitos hibernando
Em um quarto como uma toca!

Quem sou eu, afinal, para
Contradizer deuses e destinos?
Rompo as bordas do frenesi
Do meu instinto de bicho:

Eu, homem, humano  - haja o amor
Ou a vida que haja, tudo é pouco,
Sempre quero mais! Abaixo a cabeça
E, pelo faro, procuro o cio do mundo.


II

Pelas horas
De felicidade que
Eu ganhei como uma
Criança que ganha um doce,
Agradeço os beijos
Dados, os abraços concupiscíveis,
Os corpos nos corpos
- Cada corpo individualmente
Muito corpo, corpo eu, corpo
Eterno - os momentos
Compartilhados como canções
Extravagantes e joviais,
Cada sorriso e cada cheiro de pele
Dos quais eu sorvi como
Uma bela flor desértica e sedenta
Sorve a umidade das chuvas breves
De Setembro:

O homem que tenha sido amado
Uma vez ao menos nunca estará
Sozinho.

Dois pensamentos sobre a morte do Verão

I

A morte
Do Verão
É daquelas
Que não sabemos
Se é triste
Ou tardia
- Sabemos
Que a agonia
Do mormaço
Nos prados é,
Enfim, finda:

E toda a chuva
Do final de Fevereiro
É um choro constante
Lavando almas
E refrescando
Os corpos atônitos
À melancolia profunda
Do profundo silêncio
Dos funerais...


II

O carnaval
Já se foi
Com suas cores
- O que resta
Está coberto pelas cinzas
Da Quarta-Feira:

Sumiu meu amor,
Sumiu minha libido,
Sumiu meu estio
E o meu humor
- Toda a luz é nula
Quando se fecham
Os olhos que enxergam,
Quando se fecham
Os olhos do Verão...

E toda essa chuva
É um réquiem
Desafinado e úmido.

18.02.2013

I

Tudo aquilo
Que está aqui
Embelezando
O mundo, toda
A minha poesia: é poesia
Simplesmente, é o eu
Pensando belezas
- E a beleza é a única
Expressão que vale
A pena. É o eu
Pensando, é o eu
Válido, é o eu:

O eu já não se importa
Com a soberba do acerto
Ou a preocupação do erro.
O eu sabe que toda a essência
Das pessoas e das coisas
É opinião, que viver é opinar
Mesmo quando em silêncio:

O eu profundamente experiencio,
E me basta o gigantismo
Deste ato.


II

Pego
Da vida
Aquilo que ela
Quiser me dar
- Flor aberta
Me seduz e eu
Sou um pássaro:

Quem disse que
O crime não compensa
Certamente nunca roubou
Um beijo.

20.02.2013

I

Tenho em mente
Uma sensível e lúcida
Razão quando penso
Em não pensar como
Pensam os outros:
Tudo o que somos
É imitação, por isso
Me alegra tanto a originalidade.

Quero que se exploda
O gosto ou desgosto
Alheio - cuidar do meu
Próprio pensamento
Já é propósito demais,
Complicação demais,
E eu gosto é do sossego:

Tudo em mim
que conseguir
Independência,
Independente
Será.


II

Não quero ser
Um bom poeta:
Bons poetas
Já existem
Aos montes.
Talvez até mesmo
Todo o poeta plausível
Seja um bom poeta
- Mas não!

Eu quero
Muito ser,
E portanto sou,
O eu poeta,
O eu tudo,
O eu mesmo:
Se sou insignificante
Ante o universo,
Ao menos sei que sou
Originalmente
Insignificante.


III

Essa coisa
De pequeneza
Ou grandeza

É uma armadilha
Sutil
Da mente.

sexta-feira, março 1

Três pensamentos influenciados por um vinho barato

I

O mormaço
Do meio
De fevereiro,
E eu, improdutivo,
Rendo meu ser
E minha consciência
A um vinho seco
Que me aquece
Mais do que preciso
E destoa este verão:

O que pensar
Diante de um tédio
Tão enorme? Observo
Com olhos prontos a tormenta
Que se arma na noite quente,
O vento que varre a dor do mundo:
O que, além da beleza,
Justifica a minha existência?


II

Tudo o que se passa,
Inumerável, é informação
Processada no grande cérebro
Da realidade - ai! qualquer
Fração disso tudo é demais
Para minha consciência,
Qualquer vírgula divina
É um ponto aos meus olhos
Leigos de mortal.

Quem me dera, ai, quem
Me dera saber tudo por
Decreto, meu unir novamente
Ao uno primordial; ai, eu quero
Retornar a deus, mas sem morrer!

Ai, estar vivo me amargura; ai,
Ser e estar é um desgosto
Sôfrego... ai... já agonizo agora
A agonia de amanhã, pois que viver
Me aborrece, mas a morte me assusta:

Me exilem
Bem longe
De tudo isso...


III

Se faz jus ao nome
O vinho que bebo,
Se presta honras
Ao Dionísio enorme
Que me habita e me
Consola, se me mata
A sede e me deixa com sono,
Se me lembra da melancolia
E da tragédia, se me lembra
Em cada gole largo um beijo
Voluptuoso de quem eu mais
Amei: qual motivo para não
Beber haveria?

Aceno ao todo que me cerca
Com meus olhos que cruzaram
A bruma - e foi o vinho
Quem guiou a barca rota
Pelo lago solitário e sem
Sinalização amiga:

Nas veias do meu instinto
Circula a embriaguez.

sexta-feira, fevereiro 22

14.02.2013

I

Juro que não
Sei ao certo o nome
Deste sentimento
Triste e inútil
Que me enfadonha
O hálito e a vida
De tempos em tempos
- Ânsia suprema, tédio maior,
Desejo de morte, cenas de drama,
Nascimento da tragédia.

Talvez
Eu deva me recolher
À gruta silenciosa
Banhada de matos
Aos pés dos banhados
E lá viver com toda
A minha amarga solidão
Incurável e daninha:

Eu mesmo sou
Algum tipo de aborto sofrível
Da natureza rústica, e não tenho
Lugar nenhum nessa sociedade
Feliz por si
Só.


II

Queria viver uma vida
Que fosse como uma canção
Que queimasse nos lábios
Quentes de deus dormindo:

Queria ser uma nuvem
Que se perde e se desfaz
Ao som do vento
Ao nascer de um dia voraz.

Ah, eu queria viver como a regra quebrada!
Ah, eu quero viver como não sei o quê...
Ai, tudo é tão custoso nessa ilusão real!
Ai... tudo é um esforço que nunca compensa...
Deixa - eu de fato estou queimando
Nos lábios densos de deus dormindo.
Deixa, eu sei de todo o futuro de mim,
Sou teimoso, porém, por pura abstração:

Minha tristeza
É um sol
Se pondo.

sexta-feira, fevereiro 1

Dois pensamentos sobre a furtividade

A. Loise

I

Tudo o que nos dão
Os deuses desprovidos
De consciência e de justiça,
Os deuses que não escolhem
E não tem opinião, os deuses,
Os deuses, Aline, que somos nós
E todos e tudo mais o que há
- Tudo o que nos dão
É mero acaso, é fraca imagem,
É ilusão: por isso que tudo aquilo
Que é roubado gentilmente
Tem o gosto mil vezes mais forte
Do que o regalo que nos ofertam
Com pureza. Por isso, insisto tentativas
De burlar teus olhos, de tomar despreparadas
Tuas mãos minúsculas, de achar baixa
A guarda de tua lâmina, de sorver
Teus beijos como lambidas leves,
Que o pássaro deflora a flor
Sem que esta o perceba:

Deixa eu te furtar com leveza e gozo,
Deixa eu te furtar antes que tu possas
Me impedir, deixa eu te possuir como
A noite possui as estrelas e as faz
Brilhar. Deixa - eu saltarei das sombras
Mais altas que houverem e te abocanharei
Como um gato larápio que apanha
Em pleno ar a pomba descuidada e linda.


II

Ando
Nas sombras
Na expectativa
De te ver sem que
Me vejas tu: sou
O furtivo, a miragem,
Te observo e te cuido
E te absorvo como
As pétalas daninhas
Absorvem em desespero
As umidades do mundo.

Agonizo
De sedes
Sobrenaturais,
E se há água
Que baste na vida
Ela se chama teu corpo.
Não posso dizer que meu corpo
Ferve, pois o calor demais
Entristece a matéria plausível.
Não. Meu corpo tem o calor
Exato da rigidez contida
Do lombo do touro, que não cabe
Dentro de si na potência
Que antecede a carne.

Meu corpo é uma estrela fogo-fátuo
Que se prepara à explosão
Numa elegância tão fria e clara
Que queima como queima
O olho de deus.

Eu sou a semente que quer
Se espalhar, eu sou a brisa
Noturna que convoca grilos
E o mar encantado que devora
A lua, eu sou raso e simples
Como é raso e simples todo
O universo:

Eu sou a luz
Que brilha
Por brilhar
Apenas.

06.01.2012

Que desabe sobre mim,
Pois que assim
É que deve ser,
O peso imensurável
Da vida, que desabe
Com toda a sua fúria,
Pois que sou só forças
Para tudo em mim
Conter e sustentar
E expandir.

Que desabe, colossal
E orgânica,
Que meus braços são pontes
Para toda a física e metafísica
E poesia e filosofia
De viver; que desabe
- Impiedosa, se possível -
Que meu ser é todo tensão
Na agonia da ansiedade
De invadir e explodir
Dentro de ti.

Desabe, imensa,
Que me chamo
Virilidade.

quinta-feira, janeiro 31

Dois pensamentos sobre a Morte

I

A morte é um exagero.
É um exagero e não sei
O que escrever ao certo
Sobre ela: tudo já foi dito,
Mas tudo é mera opinião.

Não posso, porque não é possível,
Falar sobre a morte, porque falar
Sobre a morte é falar sobre
A vida e o medo de perder,
E falar sobre a vida e o medo
De perder é divagar, e divagar
É perder a vida, mas não o medo.

Não! Quero mais é viver,
Viver como um animal selvagem
Correndo campinas e vales,
Viver como um animal em êxtase,
Deixando que a morte chegue
Como chega o sono em quem
Está cansado, porém não pensa
Em dormir e, afinal, dorme:

Quero morrer
De viver
Demais.


II

Tudo o que deixarei
Aqui e incompleto,
Todas as frases
Por dizer e não ditas,
Não ver mais os seios
Do meu amor e não mais
Saber calor na luz do sol:

Todo o medo que há
É medo de perder,
E temer a morte
É temer todas as perdas
Ao mesmo tempo.

Sossega, meu coração,
Que a verdade é que
Nada nos pertence,
Então nada nos importa.
Deixo ao universo
Suas próprias preocupações:
Viver é piscar os olhos.

sexta-feira, janeiro 25

Ode à vida animal e vegetal

É quando eu percebo que nada
Sei que percebo também
O quanto animal que eu sou,
E me constrange a minha fome
E a minha dor e o meu desejo.

Não posso com isso: ser humano
É apenas ter um nome e dar nome
Às coisas todas que rotulam os próprios
E os alheios pensamentos. Mas penso,
E se penso sou humano,
E me contradigo
E já não quero
Pensar, que pensar
É doença
Infrutífera.

Eu, um cavalo: equipo rédeas
Em mim mesmo.
Eu, um cão: me torno íntimo
Da focinheira da vontade
E do silêncio.
Eu, animal domado pelo chicote
Lindo da vida,
Já não temo nada.


II

Que lindas
As árvores
Que só vivem
Para os outros
Suas vidas vãs.

A árvore é o último
Estágio, é viver
Em cópula e romance
Com todos os deuses,
É ser abençoado
Infinitamente por gozar
Do sol e da chuva e da neve
Sem questionar; ser árvore
É ser simplesmente:

Todas
Árvores
São lindos
Budas.

sexta-feira, janeiro 18

Ode à saudade que não morre

Para A. L.

I

Eu me perdi
Na mata,
Eu me perdi
Quando procurava
Uma flor desfalecida
Para te presentear,
Quando levava a vida
Nos lábios que te pronunciavam
E sombras frescas na algibeira
E pés descalços por humildade,
Eu me perdi na mata
- Pois todas as flores ao sol
Tem o teu perfume morno,
Pois a terra tem o gosto
Da tua pele primordial
E os polens que flutuam
Sua a tua fertilidade:

Senti nas mãos
Tuas coxas úmidas
Quando toquei de leve
O rio.

II


Perdido
Na mata
Ouço tua voz
Que me chama
Por todos os lados
- És o canto de pássaros
Simplórios e o riso
Largo das corredeiras
E das cascatas. Perdido
(De mim mesmo) na mata,
Imprimo em toda e qualquer
Coisa a saudade
Que sinto: e todas árvores
São tua cintura quando as toco,
E teu seio é que repousa maduro
Nas frutas que pendem à minha
Boca e todas as pedras robustas
E esnobes que vejo são a tua
Teimosia transfigurada e com musgos
À beira dos caminhos.

E, no final, não existe rejeição real:
Não me podes negar teu corpo, pois
Que teu corpo é todas as coisas
Que aqui estão para minhas mãos
E meus lábios.

Ode ao Tédio

I

Acordar,
Dia após dia,
Escovar
Infinitamente
Os dentes,
Comer para sentir
Fome novamente,
Caminhar e caminhar,
Mais e mais,
Mais de tudo,
Menos daquilo,
Desejos, tristezas,
Encontros que acabam
Em despedidas:

A vida é um ciclo
De diferentes coisas
Iguais. Até que não
Acordemos mais,
Nem escovemos os dentes,
Nem comamos ou sintamos
Fome ou desejo ou tristeza.
Movimento eterno até que haja
Repouso eterno, inércia de ser.

II

Às vezes,
Penso que ganhei
De presente
Uma bomba,

E tudo o que
Cabe em mim
É o sentimento
De não saber
Ao certo
Como agradecer:

Eu sou um sorriso
Fraco e amarelo

quinta-feira, janeiro 10

04.01.2013

I

Medo,
Ter medo
É degradante.
Eu realmente
Não quero ter medo,
Mas o medo não é
Algo que se tem, é
Algo que se sente.

Cesso, enfim, o eu
Que há em todos
Que sou, e a vida
Já não é importante,
E sentir já não faz
Sentido - pois que acordei
Aqui para ser o santo
Que já sou, pois que nasci
Para o silêncio da contemplação,
E quem contempla não deve
Sentir medo, senão o medo
De sentir medo.

II

Meu batismo
Foi de luz
No meio da mata,
Meu batismo foi
De luz e a lua
O executou.

Meu batismo
Foi de luz,
Foi de luz
De prata,
Meu batismo
Foi de luz
E agora só resta
Esta minha religião:

Observo e aprendo
Com a mata e os seres
Da mata e com o homem
Avesso ao homem.
Eu cresço e sou o deus
De mim mesmo.

terça-feira, janeiro 8

Ode Felina

I

Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.


II

Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.


07.01.2013