A. Loise
Tudo o que nos dão
Os deuses desprovidos
De consciência e de justiça,
Os deuses que não escolhem
E não tem opinião, os deuses,
Os deuses, Aline, que somos nós
E todos e tudo mais o que há
- Tudo o que nos dão
É mero acaso, é fraca imagem,
É ilusão: por isso que tudo aquilo
Que é roubado gentilmente
Tem o gosto mil vezes mais forte
Do que o regalo que nos ofertam
Com pureza. Por isso, insisto tentativas
De burlar teus olhos, de tomar despreparadas
Tuas mãos minúsculas, de achar baixa
A guarda de tua lâmina, de sorver
Teus beijos como lambidas leves,
Que o pássaro deflora a flor
Sem que esta o perceba:
Deixa eu te furtar com leveza e gozo,
Deixa eu te furtar antes que tu possas
Me impedir, deixa eu te possuir como
A noite possui as estrelas e as faz
Brilhar. Deixa - eu saltarei das sombras
Mais altas que houverem e te abocanharei
Como um gato larápio que apanha
Em pleno ar a pomba descuidada e linda.
II
Ando
Nas sombras
Na expectativa
De te ver sem que
Me vejas tu: sou
O furtivo, a miragem,
Te observo e te cuido
E te absorvo como
As pétalas daninhas
Absorvem em desespero
As umidades do mundo.
Agonizo
De sedes
Sobrenaturais,
E se há água
Que baste na vida
Ela se chama teu corpo.
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