quinta-feira, março 7

Dois pensamentos solitários

I

Há um algo estranho, bem faz uns dois ou três
Ou quatro dias, que me vem oprimindo misteriosamente,
Que me vem moendo os ossos aos pouquinhos,
Que me coça e eu nem sei aonde, que me perco
Sem nem sair do meu lugar:

Há algo muito estranho, é verdade, nessa sensação
Estranha de se sentir sozinho, de ser humano e estar nu
Diante dos olhos estrábicos do destino e da vontade,
Na boca morta do épico ou no canto morto do medíocre,
Na previsão da morte que virá, que virá certamente
Certeira, com certeza, que virá para todos nós
Como um tiro dado no escuro, como uma onda imensa
Que arrebata a areia e os castelos esquecidos na orla
- E eu sou uma criança perdida num dia arejado e dourado de sol
Brincando deveras na beira do mar, criando covas nas dunas molhadas,
Enterrando conchas como se fossem lembranças,
Olhando nuvens como quem se separou
Do tudo.


II

Se eu me separei de tudo, do todo, do cosmo ou
Seja lá como quero chamar essa coisa da qual sinto
Saudade e não sei explicar: tenha um nome ou não
Sei que um pedaço de mim não está em mim,
Ou talvez eu seja um caco pequeno
Que sente falta de um corpo maior,
Que se oprime por ser consciente
De tudo isso, de que há tragédia
E comédia e outras sutilezas
Em ser humano

- Que a solidão é verbo,
E toda a vida que nasce
Tem uma irmã gêmea
Chamada morte.

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