quinta-feira, abril 4

Dois pensamentos constrangidos diante do todo

I

Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.

Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.


II

Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?

Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.

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