I
A morte é um exagero.
É um exagero e não sei
O que escrever ao certo
Sobre ela: tudo já foi dito,
Mas tudo é mera opinião.
Não posso, porque não é possível,
Falar sobre a morte, porque falar
Sobre a morte é falar sobre
A vida e o medo de perder,
E falar sobre a vida e o medo
De perder é divagar, e divagar
É perder a vida, mas não o medo.
Não! Quero mais é viver,
Viver como um animal selvagem
Correndo campinas e vales,
Viver como um animal em êxtase,
Deixando que a morte chegue
Como chega o sono em quem
Está cansado, porém não pensa
Em dormir e, afinal, dorme:
Quero morrer
De viver
Demais.
II
Tudo o que deixarei
Aqui e incompleto,
Todas as frases
Por dizer e não ditas,
Não ver mais os seios
Do meu amor e não mais
Saber calor na luz do sol:
Todo o medo que há
É medo de perder,
E temer a morte
É temer todas as perdas
Ao mesmo tempo.
Sossega, meu coração,
Que a verdade é que
Nada nos pertence,
Então nada nos importa.
Deixo ao universo
Suas próprias preocupações:
Viver é piscar os olhos.
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