terça-feira, março 5

Dois pensamentos de gratidão

I

Às vezes
Reclamo de barriga
Cheia, como quem nunca
Tivesse provado um momento
De glória e de candura...
Me contradigo... Eu sou o rei
Da contradição: do amor
Mais profundo, em verdade,
Em verdade vos digo
- Já bebi os sumos mais
Doces, já provei a polpa
E me lambuzei o focinho,
Animal de coitos hibernando
Em um quarto como uma toca!

Quem sou eu, afinal, para
Contradizer deuses e destinos?
Rompo as bordas do frenesi
Do meu instinto de bicho:

Eu, homem, humano  - haja o amor
Ou a vida que haja, tudo é pouco,
Sempre quero mais! Abaixo a cabeça
E, pelo faro, procuro o cio do mundo.


II

Pelas horas
De felicidade que
Eu ganhei como uma
Criança que ganha um doce,
Agradeço os beijos
Dados, os abraços concupiscíveis,
Os corpos nos corpos
- Cada corpo individualmente
Muito corpo, corpo eu, corpo
Eterno - os momentos
Compartilhados como canções
Extravagantes e joviais,
Cada sorriso e cada cheiro de pele
Dos quais eu sorvi como
Uma bela flor desértica e sedenta
Sorve a umidade das chuvas breves
De Setembro:

O homem que tenha sido amado
Uma vez ao menos nunca estará
Sozinho.

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