I
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Porém não digo
Me descem atravessadas
A garganta como um gole
De água mal bebido.
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Como um suspiro
De alívio instantâneo,
As coisas que eu, contudo,
Não digo, ah, me são um peso
Que só cresce sobre si mesmo
E se acumula incessantemente,
Gota a gota, na cisterna de mim mesmo.
Água infiltrada de meus sentimentos úmidos,
Bolores e mofos de meu ser entregue
À solidão dos cantos e das rachaduras,
Degeneração que só cresce alimentada
Pela solidão que eu sinto por não ter ninguém
Para expor os sentidos do meu nexo
E minhas ânsias de macaco esperto:
Não existe a possibilidade de estar acordado
Sem ser solitário! A senciência dos seres meus
Irmãos sempre destaca a solidão que existe
No pensar e digerir a realidade que nos cerca,
Mas não sabemos desde onde ou quando!
Ah, as coisas que eu quero e preciso dizer,
Mas não digo por não saber como: Ah,
As coisas que eu queria dizer são o veneno
Que eu beberei para morrer e me aquietar...
II
Não direi
Que o silêncio
Me estrangula
Como dedos longos
De duas mãos frias e brancas
Chamadas morte e haver de morrer...
Não direi!
Não direi. O silêncio
É natural como o final
Da vida. O silêncio
É natural como
O silêncio do final
Da vida. O final
É natural como
O começo...
Haja um hálito
Qualquer em mim
E tudo o que poderei
Fazer é agradecer
Silenciosamente
Como os animais
E as plantas a dádiva
De viver e morrer.
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