quarta-feira, julho 11
Tenho vergonha de ter esperanças e ilusões
Neste mundo de materialismos.
Tenho vergonha como quem vai falar às moças
E teme que lhe zombem o traje e o trejeito.
Tenho vergonha, embaraçosa, pois um dia
- Um dia que não será um dia, mas um momento -
Todos saberão o que eu sinto, e eu sentirei
O que todos são, afinal. Grande vergonha
Da unidade desnudada que tudo é,
Da unidade desnudada que é deus
Nos homens e nas pedras e nas constelações.
Grande vergonha de não querer ser parte
De tudo isso, mas um ser único e independente
E capaz daquilo que quiser, sem nada a impedir.
Tenho... tenho muita vergonha de ser quem sou,
E o que sou é vocês tagarelando, vocês amando
Falsamente, labutando qual touros e definhando tal cães,
Com o mistério supremo farejado abaixo das narinas,
Porém indetectado como qualquer ideia banal inexistente,
Com a grande sopa universal boiando invisível sem matar
A fome que se sente, porque não a comem.
Vergonha de sofrer de verso livre e de liberdades
Impraticáveis de tão profundas, vergonha de respirar
Ar puro...
Soltem os leões do destino no estádio das consciências
E deixem que devorem com prazer esta carne que nada
Tem a oferecer senão mágoas e arrependimentos natos,
Senão vergonhas de haver encarnado e de precisar partir
Sem nada concluir, pois a única conclusão é o sono que virá.
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