domingo, julho 22

A saudade
Que sinto
Do teu corpo é a felicidade atônita
De quem não conhece o gosto,
Mas
Se apaixona cruelmente
Pelo paladar primeiro que invade
As papilas da mente.
A saudade que sinto do teu corpo
É a ausência dos ventos na primavera,
A ociosidade dos polens que flutuam leves
Em fertilizações deveras despreocupadas
Na luz de um sol morno e indigente.

A saudade que sinto
É uma coisa qualquer que rasga
A pele pedante,
É a falta das obscenidades
Inocentes que só são corretas
Na tua carne fresca e pálida,
O desespero desencontrado
Da matéria que ferve e anseia
Penetrar mais profundo no âmago
De outra matéria - a saudade
Que sinto do teu corpo
É saudade de ser uno com tudo!

É a incompetência das almas
Que não se completam, mas
Se esvaziam por um instante
De si mesmas e de tudo ao redor,
No esforço divino de preencher
O outro ser em amores bruscos
E gemidos improvisados.
É o mistério cínico
Do desejo que não
É absoluto, mas imensidão...
Ah, minha saudade é um universo!

A saudade que sinto do teu corpo
É tudo o que tenho, é tudo o que sou.
A saudade que sinto do teu corpo
É a saudade que sinto de mim mesmo
E de todas as outras coisas que não conheci
- Pois que não sei quem és e não sei se sou...

O que sei é que a saudade que sinto do teu corpo
É a labuta mais bela de todas, é a arte! É a vida!
A saudade que sinto
É uma paz que vem
Da dignidade imensurável
De me sentir em ti, como um todo,
Completo:
A saudade
- Que sinto
E não nego -
É a vontade
De ser estrela
E queimar alto
Noite a dentro,
Dia a fora...

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