sexta-feira, julho 20

Alvejado por ventos crispados
De chuvas monótonas e vazias,
Luzes de cores de outono
Debruçadas numa janela qualquer,
Vislumbro um céu que já não é
O mesmo céu que havia
Segundos atrás.

O que se perdeu de meus olhos
Atentos, se a estética dessa unidade
Que é firmamento e nuvens,
Águas marítimas e planície abandonada
Já não me diz tanto quanto me dizia
Antes? O cinza que tomou todo o espaço
É o cinza que cuspi de dentro do peito,
Pois há desespero na paisagem
Tanto quanto há desespero em mim
- E ambos mudos, como quando a mínima
Vibração seria capaz de causar
Um desmoronamento de proporções
Catastróficas, como quando a palavra
Exita com medo de que tremam os lábios
Ou soluce a essência que em nós pensa...

O que se perdeu, afinal, se perdeu de meus olhos?
Onde se escondeu a ternura que era sol imenso
De minutos passados e perfumes quentes?
Ah, sempre a mesma mania, esteja eu na varanda
Fresca ou no porão mofado, esteja inutilmente sozinho
Ou acompanhado dos inúteis:
É a mim que pertence a culpa,
É minha a fuga e o modelo de toda agonia
Que se pinta na paisagem pouco expressiva.

Ramagens frias, ocaso de pouco calor, vaga
E falsa simplicidade das flores que teimam
Em me sensibilizar arqueadas ao vento:
Que verbo de poesia úmida
Materializou tanta beleza e tanta crueldade,
Que esta enorme e impotente simetria
Não cansa de me torturar?

De nada eu participo,
E o tédio é a única natureza
(Morta)
A ser vislumbrada
Desta janela.

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