sábado, julho 7

I

Na hora indecifrável da aurora,
Todo o vento que se agita no mar cessa
E se deita nas ondas para vislumbrar o signo
Maior que nasce. E o mistério que há em mim
É composto pelo mesmo material radioativo,
Pelo mesmo ouro em calda, o mesmo cheiro
De maré aquecida - toda matéria em tudo,
Tudo em toda matéria.

Se assim, porque então me perco e me descontrolo
Quando me sinto desconectado daquilo que é minha
Origem? É que sei que deus não é o velho da barba branca?

É que sei que deus não é o velho da barba branca...


II

Por que é
Que eu fui
Me apaixonar
Pelo frio
E pelo escuro
Estáticos,
Apáticos,
Que surgem
Do manto da noite?

Por que é meu
Destino amar
O mármore
Profundo das nuvens
E o ouro incerto
E delicado do sol
De Abril?

Quem me entalhou
Estas sensibilidades?
Sou curioso
Sobre as mãos
Do artista:
É deus essa sensação
Pulsante, ânsia de viver
Do animal abatido,

Ou o tédio
Enorme
Só existe
Para nada?

A ideia
De inexistir
Na morte
Me parece
Cada vez
Menos
Palpável...

Eu vou me submeter,
Com dignidade,
À escuridão
Que é necessária
E ao silêncio
Que é virtude...

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