I
Juro que não
Sei ao certo o nome
Deste sentimento
Triste e inútil
Que me enfadonha
O hálito e a vida
De tempos em tempos
- Ânsia suprema, tédio maior,
Desejo de morte, cenas de drama,
Nascimento da tragédia.
Talvez
Eu deva me recolher
À gruta silenciosa
Banhada de matos
Aos pés dos banhados
E lá viver com toda
A minha amarga solidão
Incurável e daninha:
Eu mesmo sou
Algum tipo de aborto sofrível
Da natureza rústica, e não tenho
Lugar nenhum nessa sociedade
Feliz por si
Só.
II
Queria viver uma vida
Que fosse como uma canção
Que queimasse nos lábios
Quentes de deus dormindo:
Queria ser uma nuvem
Que se perde e se desfaz
Ao som do vento
Ao nascer de um dia voraz.
Ah, eu queria viver como a regra quebrada!
Ah, eu quero viver como não sei o quê...
Ai, tudo é tão custoso nessa ilusão real!
Ai... tudo é um esforço que nunca compensa...
Deixa - eu de fato estou queimando
Nos lábios densos de deus dormindo.
Deixa, eu sei de todo o futuro de mim,
Sou teimoso, porém, por pura abstração:
Minha tristeza
É um sol
Se pondo.
sexta-feira, fevereiro 22
sexta-feira, fevereiro 1
Dois pensamentos sobre a furtividade
A. Loise
Tudo o que nos dão
Os deuses desprovidos
De consciência e de justiça,
Os deuses que não escolhem
E não tem opinião, os deuses,
Os deuses, Aline, que somos nós
E todos e tudo mais o que há
- Tudo o que nos dão
É mero acaso, é fraca imagem,
É ilusão: por isso que tudo aquilo
Que é roubado gentilmente
Tem o gosto mil vezes mais forte
Do que o regalo que nos ofertam
Com pureza. Por isso, insisto tentativas
De burlar teus olhos, de tomar despreparadas
Tuas mãos minúsculas, de achar baixa
A guarda de tua lâmina, de sorver
Teus beijos como lambidas leves,
Que o pássaro deflora a flor
Sem que esta o perceba:
Deixa eu te furtar com leveza e gozo,
Deixa eu te furtar antes que tu possas
Me impedir, deixa eu te possuir como
A noite possui as estrelas e as faz
Brilhar. Deixa - eu saltarei das sombras
Mais altas que houverem e te abocanharei
Como um gato larápio que apanha
Em pleno ar a pomba descuidada e linda.
II
Ando
Nas sombras
Na expectativa
De te ver sem que
Me vejas tu: sou
O furtivo, a miragem,
Te observo e te cuido
E te absorvo como
As pétalas daninhas
Absorvem em desespero
As umidades do mundo.
Agonizo
De sedes
Sobrenaturais,
E se há água
Que baste na vida
Ela se chama teu corpo.
Não posso dizer que meu corpo
Ferve, pois o calor demais
Entristece a matéria plausível.
Não. Meu corpo tem o calor
Exato da rigidez contida
Do lombo do touro, que não cabe
Dentro de si na potência
Que antecede a carne.
Meu corpo é uma estrela fogo-fátuo
Que se prepara à explosão
Numa elegância tão fria e clara
Que queima como queima
O olho de deus.
Eu sou a semente que quer
Se espalhar, eu sou a brisa
Noturna que convoca grilos
E o mar encantado que devora
A lua, eu sou raso e simples
Como é raso e simples todo
O universo:
Eu sou a luz
Que brilha
Por brilhar
Apenas.
Ferve, pois o calor demais
Entristece a matéria plausível.
Não. Meu corpo tem o calor
Exato da rigidez contida
Do lombo do touro, que não cabe
Dentro de si na potência
Que antecede a carne.
Meu corpo é uma estrela fogo-fátuo
Que se prepara à explosão
Numa elegância tão fria e clara
Que queima como queima
O olho de deus.
Eu sou a semente que quer
Se espalhar, eu sou a brisa
Noturna que convoca grilos
E o mar encantado que devora
A lua, eu sou raso e simples
Como é raso e simples todo
O universo:
Eu sou a luz
Que brilha
Por brilhar
Apenas.
06.01.2012
Que desabe sobre mim,
Pois que assim
É que deve ser,
O peso imensurável
Da vida, que desabe
Com toda a sua fúria,
Pois que sou só forças
Para tudo em mim
Conter e sustentar
E expandir.
Que desabe, colossal
E orgânica,
Que meus braços são pontes
Para toda a física e metafísica
E poesia e filosofia
De viver; que desabe
- Impiedosa, se possível -
Que meu ser é todo tensão
Na agonia da ansiedade
De invadir e explodir
Dentro de ti.
Desabe, imensa,
Que me chamo
Virilidade.
Pois que assim
É que deve ser,
O peso imensurável
Da vida, que desabe
Com toda a sua fúria,
Pois que sou só forças
Para tudo em mim
Conter e sustentar
E expandir.
Que desabe, colossal
E orgânica,
Que meus braços são pontes
Para toda a física e metafísica
E poesia e filosofia
De viver; que desabe
- Impiedosa, se possível -
Que meu ser é todo tensão
Na agonia da ansiedade
De invadir e explodir
Dentro de ti.
Desabe, imensa,
Que me chamo
Virilidade.
Assinar:
Postagens (Atom)