Não quero, meus amigos, cair na armadilha
Da repetição, da tecla inutilmente martelada,
Do esforço honesto, bruto e vão, mas acontece
Que é preciso dar ouvidos: eu sou tudo, eu sou!
Eu sou o sol enorme resplandecendo calorosamente,
Eu sou o poder emanado de todas as estrelas majestosas!
Eu sou o enterro do empresário preocupado, a festa
Garbosa de uma viúva que voltou a ter alegria,
O menino inocente que se masturba e se consome
Pensando em amores lhe foram ensinados
E que são falsos. Eu sou a terra se movendo brusca,
Eu sou o vulcão expelindo o fogo, mas não sou feito
De ódio, não, o ódio é ignorância, e ignorância
É imperfeição. Eu sou o perfeito, o diminuto
Enorme, o taxista que deseja retornar ao lar
Para se embriagar em tristezas destiladas.
Eu sou tudo, eu sou!
Eu sou tu, meu amigo,
E tu me és! Nossa consciência
É uma, como é um os milhões de mundos
Magníficos e exuberantes que criamos
Para nós mesmos! Eu sou a música, tu és a música,
Tudo é a música! Eu sou a sombra que apazígua
E guarda mistérios que um dia serão conhecidos,
Porque também os sou - o grão, a água, a ave simplória,
O solo germinando tudo o que um dia se chamará vida:
Eu sou!
Queiramos nós, amigos, o poder deste verbo sempre
Presente e completamente compreendido, pois somos
Oniscientes e espetaculares e poderosos e possíveis!
Queiramos o poder de querer, sobre todas as barreiras
Que nós mesmos tentamos nos impor! Eu sou!
Eu sou,
E não há
O que fuja
Dos meus olhos
Que veem a tudo.
quinta-feira, agosto 16
terça-feira, agosto 14
Que poderoso
É esse sentimento
Que tenho trazido dentro
De mim desde o momento
Em que acordei para a vida que há,
Que tenho trazido dentro
De mim desde o momento
Em que acordei para a vida que há,
Para a vida que sou - porque descobri
Que sou o mundo, e sou o mundo e o criador
Do mundo, porque descobri que o mundo não existe
Sem que eu exista, e que todas as coisas são a mesma coisa.
Que poderoso esse sentimento
Que é gosto de vinho e cheiro de mar,
Que sou o mundo, e sou o mundo e o criador
Do mundo, porque descobri que o mundo não existe
Sem que eu exista, e que todas as coisas são a mesma coisa.
Que poderoso esse sentimento
Que é gosto de vinho e cheiro de mar,
E que é olhar as cores da existência, olhar o sol
Trespassando as nuvens como uma espada impiedosa
E ver que o céu está sangrando o meu sangue e a minha dor!
Que poderoso esse sentimento que é amor completo, que é riso
De amigos compartilhando bebidas e fumaças e pensamentos,
Que é tudo isso sobre o sereno, que é andar noite a dentro
Trespassando as nuvens como uma espada impiedosa
E ver que o céu está sangrando o meu sangue e a minha dor!
Que poderoso esse sentimento que é amor completo, que é riso
De amigos compartilhando bebidas e fumaças e pensamentos,
Que é tudo isso sobre o sereno, que é andar noite a dentro
Sem preocupações sobre quando nascerá o dia imaturo
Ou se haverá dinheiro ou haverá trabalho ou haverá
Comida... Que poderoso é existir simplesmente
Como um animal gastando a si mesmo
Em êxtases de simplicidade e gozo.
Ou se haverá dinheiro ou haverá trabalho ou haverá
Comida... Que poderoso é existir simplesmente
Como um animal gastando a si mesmo
Em êxtases de simplicidade e gozo.
Alegria, meu coração,
Alegria! Nada pode dar errado
Pois que não existe o erro e nem sequer
Existe a imperfeição - tudo é o que é por ser
Simplesmente, como as flores que desabrocham
Não para que sintamos seu perfume, mas porque não
Sabem mais nada senão desabrochar, como os rios correndo
Porque não sabem andar lentamente. Como abelhas sendo abelhas
E cães sendo cães, sejamos nós humanos sendo humanos,
Completamente, simplesmente humanos, porque não há
Fragmentações entre nós e nós mesmos, e não há
Fragmentações entre nós e o resto, porque nós
É que somos o resto, e o resto é que nos é.
Alegria! Nada pode dar errado
Pois que não existe o erro e nem sequer
Existe a imperfeição - tudo é o que é por ser
Simplesmente, como as flores que desabrocham
Não para que sintamos seu perfume, mas porque não
Sabem mais nada senão desabrochar, como os rios correndo
Porque não sabem andar lentamente. Como abelhas sendo abelhas
E cães sendo cães, sejamos nós humanos sendo humanos,
Completamente, simplesmente humanos, porque não há
Fragmentações entre nós e nós mesmos, e não há
Fragmentações entre nós e o resto, porque nós
É que somos o resto, e o resto é que nos é.
Alegria, meu coração,
Alegria! Porque tu és tudo,
Meu coração, e és, portanto, correto
Em todos os teus sentimentos e dores, porque
És correto, principalmente, quando te alegras! Alegria!
Porque a vida foi feita para ser vida, cheia de abismos escuros
Para que possamos entender a perfeição dos autos
Picos frescos, e cheia de alturas para que não
Desejemos a queda demasiadamente.
Alegria!
Que chegará
Um momento fatídico
Em que nada sentirás, coração,
Mas, até lá, é tua única
Obrigação real
Alegria! Porque tu és tudo,
Meu coração, e és, portanto, correto
Em todos os teus sentimentos e dores, porque
És correto, principalmente, quando te alegras! Alegria!
Porque a vida foi feita para ser vida, cheia de abismos escuros
Para que possamos entender a perfeição dos autos
Picos frescos, e cheia de alturas para que não
Desejemos a queda demasiadamente.
Alegria!
Que chegará
Um momento fatídico
Em que nada sentirás, coração,
Mas, até lá, é tua única
Obrigação real
Sentir muito
E nada
Mais.
E nada
Mais.
sábado, agosto 11
Agosto,
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
quinta-feira, agosto 9
De uma maneira estranha
E inexplicavelmente impulsiva,
Vez ou outra me sinto
Um completo suicida
- Me corroem ímpetos
De voar, absurdamente
Desvairado, do décimo
Quarto andar ao chão.
Seria um voo rápido,
Um vislumbre mágico da cidade
Inteira, por um ou dois segundos,
Surgindo e crescendo
Dentro de meus olhos...
Mas algo me segura,
Ou eu mesmo me impeço:
Que fagulha de vida é esta
Que me força a esperar?
A morte é certa - porque
A pressa? Terei em mim
A terra fria quando for hora...
Há algo
Que me diz que me surpreenderei
Muito
Enquanto teimar em respirar.
E recolho minhas asas.
E inexplicavelmente impulsiva,
Vez ou outra me sinto
Um completo suicida
- Me corroem ímpetos
De voar, absurdamente
Desvairado, do décimo
Quarto andar ao chão.
Seria um voo rápido,
Um vislumbre mágico da cidade
Inteira, por um ou dois segundos,
Surgindo e crescendo
Dentro de meus olhos...
Mas algo me segura,
Ou eu mesmo me impeço:
Que fagulha de vida é esta
Que me força a esperar?
A morte é certa - porque
A pressa? Terei em mim
A terra fria quando for hora...
Há algo
Que me diz que me surpreenderei
Muito
Enquanto teimar em respirar.
E recolho minhas asas.
Soneto Cético
Alguém me trancou, por maldade,
Dentro de um sonho ruim
De tão bom! Dói, vida!
É no latejar da ferida
Que se sente o ímpeto doce
De viver. Tudo será perfeito,
Desde que eu sorria
Vinte e quatro horas por dia.
Vai passar! Cada momento,
Cara, beijo, suspiro, espreguiçar...
Vai passar... Até a vida
Vai passar... E eu, teórico,
Só sei me preocupar com aquilo
Que vem depois do calor da luz.
Dentro de um sonho ruim
De tão bom! Dói, vida!
É no latejar da ferida
Que se sente o ímpeto doce
De viver. Tudo será perfeito,
Desde que eu sorria
Vinte e quatro horas por dia.
Vai passar! Cada momento,
Cara, beijo, suspiro, espreguiçar...
Vai passar... Até a vida
Vai passar... E eu, teórico,
Só sei me preocupar com aquilo
Que vem depois do calor da luz.
Perco meu tempo observando inutilidades:
Descobri cores impronunciáveis de tão ricas
E lúcidas, descobri insetos felizes e lindos!
Perco meu tempo observando inutilidades?
Eu é que sou um inútil, fomentador opaco
Dos erros conscientes de ser humano
(Dos erros conscientes de ser humano,
Eu é que sou inútil, germinador fraco).
Qual a causa única e infinita de tudo,
Imensuráveis acasos geradores de prováveis
Destinos aleatórios e singularmente tristes?
Qual a causa única e infinita de tudo,
Senão a única e infinita intenção criadora
Da causa pela causa sem motivo ou paixão?
Descobri cores impronunciáveis de tão ricas
E lúcidas, descobri insetos felizes e lindos!
Perco meu tempo observando inutilidades?
Eu é que sou um inútil, fomentador opaco
Dos erros conscientes de ser humano
(Dos erros conscientes de ser humano,
Eu é que sou inútil, germinador fraco).
Qual a causa única e infinita de tudo,
Imensuráveis acasos geradores de prováveis
Destinos aleatórios e singularmente tristes?
Qual a causa única e infinita de tudo,
Senão a única e infinita intenção criadora
Da causa pela causa sem motivo ou paixão?
Três sonetos assimétricos de tédio
I
Os segundos, todos eles,
Parecem feitos de tédio bruto,
De rocha impossível, de solidão
Suspirante incapaz.
O que foi que houve
Que me parece tudo irreal?
(Daqui a pouco alguém salta
De trás de uma cortina etérea
E me confessa que toda
Existência é cena montada,
E os atores acenam, solícitos,
Para minha cara de paspalho conformado...)
Onde foi que esqueci o remédio
Suposto para me acordar?
II
Olho a árvore muito marrom-e-dourado
E sei que é Outono alto quem cala.
De onde veio tudo isso sob o sol ameno,
Essas pedrinhas, essas gramas,
Essas florzinhas ralas e aquelas
Nuvens de desgosto cinza e negro?
O cenário (que é tempestade anunciada
Num campo de ventos e folhas),
Que mão o pintou? Quem, dentre os mestres
De máquinas, ajustou todas estas funções?
Há tanto dentro e fora de mim, inacessível,
Que a resposta só pode estar escondida
Nas ramagens felizes e viris do mundo:
A vida a crescer sem causa ou razão...
III
Uma grande mesa, marrom e desgastada,
Perdida num salão de penumbras alegóricas
Com suas seis cadeiras verde-pera morto
- Num canto da cabeceira esquecida, eu:
Uma caneta incerta na mão alta, um fumo
Bom na mão canhota, lançando um fio fino
De fumaça para inundar tudo o que há...
Uma palavra rabiscada, dúzias de dúvidas
Nas sobrancelhas pesadas de sombras
Borradas. Pouca luz ao redor do corpo,
Nariz de germânico triste, olheiras...
Faltava, nesta cena, fogo de lareira, uma cadela
- Taça de vinho derrubada ao descaso:
Que pintura lindíssima qualquer vida humana.
Os segundos, todos eles,
Parecem feitos de tédio bruto,
De rocha impossível, de solidão
Suspirante incapaz.
O que foi que houve
Que me parece tudo irreal?
(Daqui a pouco alguém salta
De trás de uma cortina etérea
E me confessa que toda
Existência é cena montada,
E os atores acenam, solícitos,
Para minha cara de paspalho conformado...)
Onde foi que esqueci o remédio
Suposto para me acordar?
II
Olho a árvore muito marrom-e-dourado
E sei que é Outono alto quem cala.
De onde veio tudo isso sob o sol ameno,
Essas pedrinhas, essas gramas,
Essas florzinhas ralas e aquelas
Nuvens de desgosto cinza e negro?
O cenário (que é tempestade anunciada
Num campo de ventos e folhas),
Que mão o pintou? Quem, dentre os mestres
De máquinas, ajustou todas estas funções?
Há tanto dentro e fora de mim, inacessível,
Que a resposta só pode estar escondida
Nas ramagens felizes e viris do mundo:
A vida a crescer sem causa ou razão...
III
Uma grande mesa, marrom e desgastada,
Perdida num salão de penumbras alegóricas
Com suas seis cadeiras verde-pera morto
- Num canto da cabeceira esquecida, eu:
Uma caneta incerta na mão alta, um fumo
Bom na mão canhota, lançando um fio fino
De fumaça para inundar tudo o que há...
Uma palavra rabiscada, dúzias de dúvidas
Nas sobrancelhas pesadas de sombras
Borradas. Pouca luz ao redor do corpo,
Nariz de germânico triste, olheiras...
Faltava, nesta cena, fogo de lareira, uma cadela
- Taça de vinho derrubada ao descaso:
Que pintura lindíssima qualquer vida humana.
terça-feira, agosto 7
É madrugada,
Mas em breve
Não será:
São cinco horas
Da manhã -
O dia procura
Meios de clarear.
Quando vier o sol
Talvez eu ainda esteja aqui
Nesta sacada alta, muito alta,
Vislumbrando o mar e o céu
E as aves que já supõe cantar
Nas nuvens de mármore rajado.
Quando vier o sol, talvez eu
Ainda esteja aqui, nesta sacada
Alta, muito alta demais, pensando
Em motivos e suspeitas de existir,
E quando vier o sol,
Eu estarei aqui:
Alto, muito alto
E completamente ereto
Para absorver com os olhos
A experiência fantástica
Mas em breve
Não será:
São cinco horas
Da manhã -
O dia procura
Meios de clarear.
Quando vier o sol
Talvez eu ainda esteja aqui
Nesta sacada alta, muito alta,
Vislumbrando o mar e o céu
E as aves que já supõe cantar
Nas nuvens de mármore rajado.
Quando vier o sol, talvez eu
Ainda esteja aqui, nesta sacada
Alta, muito alta demais, pensando
Em motivos e suspeitas de existir,
Indagando a deus sobre sua identidade
Sublime, encarando ondas como quem
Quer se afogar e descansar em ritmos
Suaves. Quando vier o sol, eu certamente
Estarei aqui - e é possível que continue
Quando o sol sumir novamente e tudo
Voltar a ser unidade na escuridão noturna
Que abraça a matéria sem preconceito...
Eu deveria ser assim, potente e extremo
Como a claridade viril do dia
Ou a sombra majestosa da noite...
Eu deveria ser assim, capaz de abraçar a tudo
E não negar nada a nada na abundância
Plena de mim mesmo.
Eu deveria ser assim,
Sublime, encarando ondas como quem
Quer se afogar e descansar em ritmos
Suaves. Quando vier o sol, eu certamente
Estarei aqui - e é possível que continue
Quando o sol sumir novamente e tudo
Voltar a ser unidade na escuridão noturna
Que abraça a matéria sem preconceito...
Eu deveria ser assim, potente e extremo
Como a claridade viril do dia
Ou a sombra majestosa da noite...
Eu deveria ser assim, capaz de abraçar a tudo
E não negar nada a nada na abundância
Plena de mim mesmo.
Eu deveria ser assim,
E assim serei:
Eu vou me triturar em golpes bruscos
E voltar ao pó antecipadamente,
Eu vou me triturar em golpes bruscos
E voltar ao pó antecipadamente,
Para, disperso num sopro de brisa,
Nunca mais parar de me mover,
Para cobrir a tudo e completar o mundo
E, estando tão próximo e tão distante
De mim mesmo, aceitar com muita nobreza
Que me calarei em breve, submerso em terra
E soterrado em silêncio,
Pois que não há outra forma
De viver a vida
Senão
Viver a vida...
Para cobrir a tudo e completar o mundo
E, estando tão próximo e tão distante
De mim mesmo, aceitar com muita nobreza
Que me calarei em breve, submerso em terra
E soterrado em silêncio,
Pois que não há outra forma
De viver a vida
Senão
Viver a vida...
E quando vier o sol,
Eu estarei aqui:
Alto, muito alto
E completamente ereto
Para absorver com os olhos
A experiência fantástica
Que é ver
Chegar
A luz.
A luz.
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