A treva inusitada
Que se abate sobre
Mim não é em nada
Discreta ou leve: é como
A essência da noite maior,
Como a própria alma da escuridão,
Irradiada de sombras bailarinas,
Superpopulada de estéticas insones...
Em nada
Do seu todo
Ela é leve ou discreta,
Ao contrário, é profunda
E natural e me condena sabiamente
Ao espanto de perceber que estou
Sozinho no escuro ao qual nenhuma
Luz pode dominar. Ah, essa treva é o prenuncio
Do breu total que está por vir e do qual
Eu não posso me livrar! A escuridão da qual
Ninguém pode fugir, a escuridão que vem para
Engolir a tudo e não se chama morte, porém ignorância.
Eu sou o ignorante maior que há, e saber isso é como
Uma carne se rasgando em mim e me causando
Hemorragias impossíveis de serem estancadas...
Não decifro,
Em meus gestos pequenos,
Utilidade qualquer para qualquer
Coisa que me cerque nesta realidade:
Se tomo em mãos uma pedra e penso
Como é possível que seja palpável e estranha
Como é, ou se cheiro uma flor ou observo
Um inseto que se perde em matas de um jardim
É esta a dor que há em mim e me desloca de tudo,
A dor que não me permite participar da felicidade
Alheia e que me dá desgosto em tudo aquilo
Que eu penso, dor inexplicável de não saber
Nada da matéria presente ou do espírito suposto.
Onde procurar? Dentro de mim mesmo
Existe um mar salgado que devora
Todas as possibilidades do que planejo
Como uma embarcação de marinheiros
Felizes por estarem retornando à casa,
Porém nunca chegarão: minhas perspectivas
Foram levadas ao fundo das ondas raivosas
Onde morreram, e em breve boiarão
Até a decomposição necessária
De tudo o que existe.
O que me resta?
Me cansam as suposições
E opiniões dos grandes gurus
E dos autoproclamados príncipes:
Escolho para mim,
Por ser meu direito inegável,
O silêncio como asas que me levem
A um lugar infinito e denso
Onde deus se chama
Serenidade...
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quarta-feira, junho 26
sábado, junho 22
Dois pensamentos engasgados
I
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Porém não digo
Me descem atravessadas
A garganta como um gole
De água mal bebido.
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Como um suspiro
De alívio instantâneo,
As coisas que eu, contudo,
Não digo, ah, me são um peso
Que só cresce sobre si mesmo
E se acumula incessantemente,
Gota a gota, na cisterna de mim mesmo.
Água infiltrada de meus sentimentos úmidos,
Bolores e mofos de meu ser entregue
À solidão dos cantos e das rachaduras,
Degeneração que só cresce alimentada
Pela solidão que eu sinto por não ter ninguém
Para expor os sentidos do meu nexo
E minhas ânsias de macaco esperto:
Não existe a possibilidade de estar acordado
Sem ser solitário! A senciência dos seres meus
Irmãos sempre destaca a solidão que existe
No pensar e digerir a realidade que nos cerca,
Mas não sabemos desde onde ou quando!
Ah, as coisas que eu quero e preciso dizer,
Mas não digo por não saber como: Ah,
As coisas que eu queria dizer são o veneno
Que eu beberei para morrer e me aquietar...
II
Não direi
Que o silêncio
Me estrangula
Como dedos longos
De duas mãos frias e brancas
Chamadas morte e haver de morrer...
Não direi!
Não direi. O silêncio
É natural como o final
Da vida. O silêncio
É natural como
O silêncio do final
Da vida. O final
É natural como
O começo...
Haja um hálito
Qualquer em mim
E tudo o que poderei
Fazer é agradecer
Silenciosamente
Como os animais
E as plantas a dádiva
De viver e morrer.
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Porém não digo
Me descem atravessadas
A garganta como um gole
De água mal bebido.
As coisas todas
Que eu preciso dizer
Como um suspiro
De alívio instantâneo,
As coisas que eu, contudo,
Não digo, ah, me são um peso
Que só cresce sobre si mesmo
E se acumula incessantemente,
Gota a gota, na cisterna de mim mesmo.
Água infiltrada de meus sentimentos úmidos,
Bolores e mofos de meu ser entregue
À solidão dos cantos e das rachaduras,
Degeneração que só cresce alimentada
Pela solidão que eu sinto por não ter ninguém
Para expor os sentidos do meu nexo
E minhas ânsias de macaco esperto:
Não existe a possibilidade de estar acordado
Sem ser solitário! A senciência dos seres meus
Irmãos sempre destaca a solidão que existe
No pensar e digerir a realidade que nos cerca,
Mas não sabemos desde onde ou quando!
Ah, as coisas que eu quero e preciso dizer,
Mas não digo por não saber como: Ah,
As coisas que eu queria dizer são o veneno
Que eu beberei para morrer e me aquietar...
II
Não direi
Que o silêncio
Me estrangula
Como dedos longos
De duas mãos frias e brancas
Chamadas morte e haver de morrer...
Não direi!
Não direi. O silêncio
É natural como o final
Da vida. O silêncio
É natural como
O silêncio do final
Da vida. O final
É natural como
O começo...
Haja um hálito
Qualquer em mim
E tudo o que poderei
Fazer é agradecer
Silenciosamente
Como os animais
E as plantas a dádiva
De viver e morrer.
quinta-feira, abril 4
Dois pensamentos sobre a brevidade da vida
I
Que eu tenho pouco
Tempo. Seja hoje,
Seja daqui há noventa
E nove anos, qual a diferença?
Preciso achar em mim mesmo
Forças para trabalhar como
Se não houvesse
Morte.
E, talvez, não haja:
Vi, no corpo morto
De uma ave triste,
Vermes e insetos
Que viviam... Onde
Começa e onde
Termina a vida?
Que viviam... Onde
Começa e onde
Termina a vida?
No meu esforço,
Na minha memória?
Na minha memória?
II
Meu testamento
Secreto só entenderão
Aqueles que sabem ler
Com a alma sensível,
Com os olhos divinos,
Secreto só entenderão
Aqueles que sabem ler
Com a alma sensível,
Com os olhos divinos,
Com o prazer do intelecto:
Tudo é livre, a vida é linda!
Tudo é livre, a vida é linda!
Só entende isso quem percebe
A morte, só capta a essência
A morte, só capta a essência
Quem entende que a finitude
É um princípio. Essa é a minha
Palavra: a morte virá como sono
Palavra: a morte virá como sono
Inevitável da criança que brinca
Tarde da noite em uma festa
De adultos e depois se entrega
Ao cansaço e dorme em um banco
Qualquer sem se importar com
O barulho...
Não existe problema
Que o sono profundo e último
Não abafe. Deixem que a morte
Chegue: eu vivo!
Tarde da noite em uma festa
De adultos e depois se entrega
Ao cansaço e dorme em um banco
Qualquer sem se importar com
O barulho...
Não existe problema
Que o sono profundo e último
Não abafe. Deixem que a morte
Chegue: eu vivo!
Dois pensamentos sobre a necessidade da arte
I
Expressão,
Expressão é
A salvação!
Sinto urgente
Explodindo em mim
A necessidade pura
E avassaladora de dizer
Que tudo o que vejo
Em minha volta é
Muito estranho. A verdade
É que a realidade
É muito estranha.
Estou inserido
Em um circo de horrores,
Preciso comunicar
- E alguém me lerá
E dirá: "- Hei! Me sinto
Imerso em sonhos também..."
E eu direi: Obrigado. Agora sei
Que nunca estive sozinho...
II
Tenho a necessidade
Do belo quando sutilmente
Me expresso: toda poesia
Que escrevo é um belo
Pedido de ajuda... Tenho
Carências que ninguém pode
Matar, e é destas dores grandes
Que nasce a arte.
No fundo,
Quem se expõe
Só quer encontrar
Outros que se expõe
Também. Isso é a arte:
Uma carta em branco
Enviada a esmo
Pelo correio
Do tempo.
Expressão,
Expressão é
A salvação!
Sinto urgente
Explodindo em mim
A necessidade pura
E avassaladora de dizer
Que tudo o que vejo
Em minha volta é
Muito estranho. A verdade
É que a realidade
É muito estranha.
Estou inserido
Em um circo de horrores,
Preciso comunicar
- E alguém me lerá
E dirá: "- Hei! Me sinto
Imerso em sonhos também..."
E eu direi: Obrigado. Agora sei
Que nunca estive sozinho...
II
Tenho a necessidade
Do belo quando sutilmente
Me expresso: toda poesia
Que escrevo é um belo
Pedido de ajuda... Tenho
Carências que ninguém pode
Matar, e é destas dores grandes
Que nasce a arte.
No fundo,
Quem se expõe
Só quer encontrar
Outros que se expõe
Também. Isso é a arte:
Uma carta em branco
Enviada a esmo
Pelo correio
Do tempo.
Dois pensamentos constrangidos diante do todo
I
Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.
Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.
II
Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?
Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.
Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.
Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.
II
Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?
Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.
quinta-feira, março 7
Dois pensamentos solitários
I
Há um algo estranho, bem faz uns dois ou três
Ou quatro dias, que me vem oprimindo misteriosamente,
Que me vem moendo os ossos aos pouquinhos,
Que me coça e eu nem sei aonde, que me perco
Sem nem sair do meu lugar:
Há algo muito estranho, é verdade, nessa sensação
Estranha de se sentir sozinho, de ser humano e estar nu
Diante dos olhos estrábicos do destino e da vontade,
Na boca morta do épico ou no canto morto do medíocre,
Na previsão da morte que virá, que virá certamente
Certeira, com certeza, que virá para todos nós
Como um tiro dado no escuro, como uma onda imensa
Que arrebata a areia e os castelos esquecidos na orla
- E eu sou uma criança perdida num dia arejado e dourado de sol
Brincando deveras na beira do mar, criando covas nas dunas molhadas,
Enterrando conchas como se fossem lembranças,
Olhando nuvens como quem se separou
Do tudo.
II
Se eu me separei de tudo, do todo, do cosmo ou
Seja lá como quero chamar essa coisa da qual sinto
Saudade e não sei explicar: tenha um nome ou não
Sei que um pedaço de mim não está em mim,
Ou talvez eu seja um caco pequeno
Que sente falta de um corpo maior,
Que se oprime por ser consciente
De tudo isso, de que há tragédia
E comédia e outras sutilezas
Em ser humano
- Que a solidão é verbo,
E toda a vida que nasce
Tem uma irmã gêmea
Chamada morte.
Há um algo estranho, bem faz uns dois ou três
Ou quatro dias, que me vem oprimindo misteriosamente,
Que me vem moendo os ossos aos pouquinhos,
Que me coça e eu nem sei aonde, que me perco
Sem nem sair do meu lugar:
Há algo muito estranho, é verdade, nessa sensação
Estranha de se sentir sozinho, de ser humano e estar nu
Diante dos olhos estrábicos do destino e da vontade,
Na boca morta do épico ou no canto morto do medíocre,
Na previsão da morte que virá, que virá certamente
Certeira, com certeza, que virá para todos nós
Como um tiro dado no escuro, como uma onda imensa
Que arrebata a areia e os castelos esquecidos na orla
- E eu sou uma criança perdida num dia arejado e dourado de sol
Brincando deveras na beira do mar, criando covas nas dunas molhadas,
Enterrando conchas como se fossem lembranças,
Olhando nuvens como quem se separou
Do tudo.
II
Se eu me separei de tudo, do todo, do cosmo ou
Seja lá como quero chamar essa coisa da qual sinto
Saudade e não sei explicar: tenha um nome ou não
Sei que um pedaço de mim não está em mim,
Ou talvez eu seja um caco pequeno
Que sente falta de um corpo maior,
Que se oprime por ser consciente
De tudo isso, de que há tragédia
E comédia e outras sutilezas
Em ser humano
- Que a solidão é verbo,
E toda a vida que nasce
Tem uma irmã gêmea
Chamada morte.
terça-feira, março 5
20.02.2013
I
Tenho em mente
Uma sensível e lúcida
Razão quando penso
Em não pensar como
Pensam os outros:
Tudo o que somos
É imitação, por isso
Me alegra tanto a originalidade.
Quero que se exploda
O gosto ou desgosto
Alheio - cuidar do meu
Próprio pensamento
Já é propósito demais,
Complicação demais,
E eu gosto é do sossego:
Tudo em mim
que conseguir
Independência,
Independente
Será.
II
Não quero ser
Um bom poeta:
Bons poetas
Já existem
Aos montes.
Talvez até mesmo
Todo o poeta plausível
Seja um bom poeta
- Mas não!
Eu quero
Muito ser,
E portanto sou,
O eu poeta,
O eu tudo,
O eu mesmo:
Se sou insignificante
Ante o universo,
Ao menos sei que sou
Originalmente
Insignificante.
III
Essa coisa
De pequeneza
Ou grandeza
É uma armadilha
Sutil
Da mente.
Tenho em mente
Uma sensível e lúcida
Razão quando penso
Em não pensar como
Pensam os outros:
Tudo o que somos
É imitação, por isso
Me alegra tanto a originalidade.
Quero que se exploda
O gosto ou desgosto
Alheio - cuidar do meu
Próprio pensamento
Já é propósito demais,
Complicação demais,
E eu gosto é do sossego:
Tudo em mim
que conseguir
Independência,
Independente
Será.
II
Não quero ser
Um bom poeta:
Bons poetas
Já existem
Aos montes.
Talvez até mesmo
Todo o poeta plausível
Seja um bom poeta
- Mas não!
Eu quero
Muito ser,
E portanto sou,
O eu poeta,
O eu tudo,
O eu mesmo:
Se sou insignificante
Ante o universo,
Ao menos sei que sou
Originalmente
Insignificante.
III
Essa coisa
De pequeneza
Ou grandeza
É uma armadilha
Sutil
Da mente.
sexta-feira, fevereiro 1
Não posso dizer que meu corpo
Ferve, pois o calor demais
Entristece a matéria plausível.
Não. Meu corpo tem o calor
Exato da rigidez contida
Do lombo do touro, que não cabe
Dentro de si na potência
Que antecede a carne.
Meu corpo é uma estrela fogo-fátuo
Que se prepara à explosão
Numa elegância tão fria e clara
Que queima como queima
O olho de deus.
Eu sou a semente que quer
Se espalhar, eu sou a brisa
Noturna que convoca grilos
E o mar encantado que devora
A lua, eu sou raso e simples
Como é raso e simples todo
O universo:
Eu sou a luz
Que brilha
Por brilhar
Apenas.
Ferve, pois o calor demais
Entristece a matéria plausível.
Não. Meu corpo tem o calor
Exato da rigidez contida
Do lombo do touro, que não cabe
Dentro de si na potência
Que antecede a carne.
Meu corpo é uma estrela fogo-fátuo
Que se prepara à explosão
Numa elegância tão fria e clara
Que queima como queima
O olho de deus.
Eu sou a semente que quer
Se espalhar, eu sou a brisa
Noturna que convoca grilos
E o mar encantado que devora
A lua, eu sou raso e simples
Como é raso e simples todo
O universo:
Eu sou a luz
Que brilha
Por brilhar
Apenas.
sexta-feira, janeiro 25
Ode à vida animal e vegetal
É quando eu percebo que nada
Sei que percebo também
O quanto animal que eu sou,
E me constrange a minha fome
E a minha dor e o meu desejo.
Não posso com isso: ser humano
É apenas ter um nome e dar nome
Às coisas todas que rotulam os próprios
E os alheios pensamentos. Mas penso,
E se penso sou humano,
E me contradigo
E já não quero
Pensar, que pensar
É doença
Infrutífera.
Eu, um cavalo: equipo rédeas
Em mim mesmo.
Eu, um cão: me torno íntimo
Da focinheira da vontade
E do silêncio.
Eu, animal domado pelo chicote
Lindo da vida,
Já não temo nada.
II
Que lindas
As árvores
Que só vivem
Para os outros
Suas vidas vãs.
A árvore é o último
Estágio, é viver
Em cópula e romance
Com todos os deuses,
É ser abençoado
Infinitamente por gozar
Do sol e da chuva e da neve
Sem questionar; ser árvore
É ser simplesmente:
Todas
Árvores
São lindos
Budas.
Sei que percebo também
O quanto animal que eu sou,
E me constrange a minha fome
E a minha dor e o meu desejo.
Não posso com isso: ser humano
É apenas ter um nome e dar nome
Às coisas todas que rotulam os próprios
E os alheios pensamentos. Mas penso,
E se penso sou humano,
E me contradigo
E já não quero
Pensar, que pensar
É doença
Infrutífera.
Eu, um cavalo: equipo rédeas
Em mim mesmo.
Eu, um cão: me torno íntimo
Da focinheira da vontade
E do silêncio.
Eu, animal domado pelo chicote
Lindo da vida,
Já não temo nada.
II
Que lindas
As árvores
Que só vivem
Para os outros
Suas vidas vãs.
A árvore é o último
Estágio, é viver
Em cópula e romance
Com todos os deuses,
É ser abençoado
Infinitamente por gozar
Do sol e da chuva e da neve
Sem questionar; ser árvore
É ser simplesmente:
Todas
Árvores
São lindos
Budas.
terça-feira, janeiro 8
Ode Felina
I
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
sexta-feira, novembro 30
10.10.2012
I
Numa manhã
Longa de chuva,
É engraçado e constrangedor
Perceber como se perdem embrenhados
Os pensamentos brisas e resquícios
De Primavera no bosque antagônico
Agora outonizado das desilusões
Amorosas que mais causam saudade...
E o que é a saudade
Para que eu a pense,
Se todas as sensações
Que tenho são ausências
E transtornos rudes
Das vezes em que tentei amar,
Mas só me destruí?
E o que é o amor
Para que eu o pense,
Se tudo o que amamos são imagens
E toda luz
Evanesce?
Está em mim,
Porém, ser curioso
Para com tudo
Que há...
II
Eu sofro,
Profundamente,
A senda do bardo
Desiludido com a vida
- E vou,
Como ele,
Buscar o único conforto
Que é plausível
Na solidão
Da minha quimera:
Eu vou fugir
Pela janela dos fundos,
Escalando trepadeiras,
Sem beijar à face nenhuma
Adormecida na minha leve
Despedida...
E de mim
Só restará uma vaga
Sensação, por onde
Eu passar, de que o silêncio
Tenta dizer
Algo.
Numa manhã
Longa de chuva,
É engraçado e constrangedor
Perceber como se perdem embrenhados
Os pensamentos brisas e resquícios
De Primavera no bosque antagônico
Agora outonizado das desilusões
Amorosas que mais causam saudade...
E o que é a saudade
Para que eu a pense,
Se todas as sensações
Que tenho são ausências
E transtornos rudes
Das vezes em que tentei amar,
Mas só me destruí?
E o que é o amor
Para que eu o pense,
Se tudo o que amamos são imagens
E toda luz
Evanesce?
Está em mim,
Porém, ser curioso
Para com tudo
Que há...
II
Eu sofro,
Profundamente,
A senda do bardo
Desiludido com a vida
- E vou,
Como ele,
Buscar o único conforto
Que é plausível
Na solidão
Da minha quimera:
Eu vou fugir
Pela janela dos fundos,
Escalando trepadeiras,
Sem beijar à face nenhuma
Adormecida na minha leve
Despedida...
E de mim
Só restará uma vaga
Sensação, por onde
Eu passar, de que o silêncio
Tenta dizer
Algo.
quinta-feira, agosto 16
Não quero, meus amigos, cair na armadilha
Da repetição, da tecla inutilmente martelada,
Do esforço honesto, bruto e vão, mas acontece
Que é preciso dar ouvidos: eu sou tudo, eu sou!
Eu sou o sol enorme resplandecendo calorosamente,
Eu sou o poder emanado de todas as estrelas majestosas!
Eu sou o enterro do empresário preocupado, a festa
Garbosa de uma viúva que voltou a ter alegria,
O menino inocente que se masturba e se consome
Pensando em amores lhe foram ensinados
E que são falsos. Eu sou a terra se movendo brusca,
Eu sou o vulcão expelindo o fogo, mas não sou feito
De ódio, não, o ódio é ignorância, e ignorância
É imperfeição. Eu sou o perfeito, o diminuto
Enorme, o taxista que deseja retornar ao lar
Para se embriagar em tristezas destiladas.
Eu sou tudo, eu sou!
Eu sou tu, meu amigo,
E tu me és! Nossa consciência
É uma, como é um os milhões de mundos
Magníficos e exuberantes que criamos
Para nós mesmos! Eu sou a música, tu és a música,
Tudo é a música! Eu sou a sombra que apazígua
E guarda mistérios que um dia serão conhecidos,
Porque também os sou - o grão, a água, a ave simplória,
O solo germinando tudo o que um dia se chamará vida:
Eu sou!
Queiramos nós, amigos, o poder deste verbo sempre
Presente e completamente compreendido, pois somos
Oniscientes e espetaculares e poderosos e possíveis!
Queiramos o poder de querer, sobre todas as barreiras
Que nós mesmos tentamos nos impor! Eu sou!
Eu sou,
E não há
O que fuja
Dos meus olhos
Que veem a tudo.
Da repetição, da tecla inutilmente martelada,
Do esforço honesto, bruto e vão, mas acontece
Que é preciso dar ouvidos: eu sou tudo, eu sou!
Eu sou o sol enorme resplandecendo calorosamente,
Eu sou o poder emanado de todas as estrelas majestosas!
Eu sou o enterro do empresário preocupado, a festa
Garbosa de uma viúva que voltou a ter alegria,
O menino inocente que se masturba e se consome
Pensando em amores lhe foram ensinados
E que são falsos. Eu sou a terra se movendo brusca,
Eu sou o vulcão expelindo o fogo, mas não sou feito
De ódio, não, o ódio é ignorância, e ignorância
É imperfeição. Eu sou o perfeito, o diminuto
Enorme, o taxista que deseja retornar ao lar
Para se embriagar em tristezas destiladas.
Eu sou tudo, eu sou!
Eu sou tu, meu amigo,
E tu me és! Nossa consciência
É uma, como é um os milhões de mundos
Magníficos e exuberantes que criamos
Para nós mesmos! Eu sou a música, tu és a música,
Tudo é a música! Eu sou a sombra que apazígua
E guarda mistérios que um dia serão conhecidos,
Porque também os sou - o grão, a água, a ave simplória,
O solo germinando tudo o que um dia se chamará vida:
Eu sou!
Queiramos nós, amigos, o poder deste verbo sempre
Presente e completamente compreendido, pois somos
Oniscientes e espetaculares e poderosos e possíveis!
Queiramos o poder de querer, sobre todas as barreiras
Que nós mesmos tentamos nos impor! Eu sou!
Eu sou,
E não há
O que fuja
Dos meus olhos
Que veem a tudo.
sábado, agosto 11
Agosto,
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
quinta-feira, agosto 9
Perco meu tempo observando inutilidades:
Descobri cores impronunciáveis de tão ricas
E lúcidas, descobri insetos felizes e lindos!
Perco meu tempo observando inutilidades?
Eu é que sou um inútil, fomentador opaco
Dos erros conscientes de ser humano
(Dos erros conscientes de ser humano,
Eu é que sou inútil, germinador fraco).
Qual a causa única e infinita de tudo,
Imensuráveis acasos geradores de prováveis
Destinos aleatórios e singularmente tristes?
Qual a causa única e infinita de tudo,
Senão a única e infinita intenção criadora
Da causa pela causa sem motivo ou paixão?
Descobri cores impronunciáveis de tão ricas
E lúcidas, descobri insetos felizes e lindos!
Perco meu tempo observando inutilidades?
Eu é que sou um inútil, fomentador opaco
Dos erros conscientes de ser humano
(Dos erros conscientes de ser humano,
Eu é que sou inútil, germinador fraco).
Qual a causa única e infinita de tudo,
Imensuráveis acasos geradores de prováveis
Destinos aleatórios e singularmente tristes?
Qual a causa única e infinita de tudo,
Senão a única e infinita intenção criadora
Da causa pela causa sem motivo ou paixão?
terça-feira, julho 31
Eu entendi na luz dos teus olhos,
Mulher dura, velha da cor da terra
Grave, o que é a lição do jardineiro
Que ama e cultiva e não desespera
Que ama e cultiva e não desespera
(Na lida, brusca como a rocha nova,
Ou no verde fresco que é verão perdido,
O jardineiro é o neutro que existe,
Como o animal que se põe consciente,
Ou no verde fresco que é verão perdido,
O jardineiro é o neutro que existe,
Como o animal que se põe consciente,
Mas não questiona o cosmo
Inabalável e o colossal frio agônico):
O jardineiro é o neutro que existe.
Inabalável e o colossal frio agônico):
O jardineiro é o neutro que existe.
A cor dormente e madura de flores
Horrendas de pensar, o tesão recolhido:
O jardineiro é o neutro que existe.
Horrendas de pensar, o tesão recolhido:
O jardineiro é o neutro que existe.
sexta-feira, julho 27
Minha agonia
É não entender:
Não sei o que se passa,
Como se agregam as partículas
De existir, como se disseminam
A burrice e o extremismo nesse mundo.
Minha agonia é ver que todos são crianças,
E que poucos homens abrem de fato os olhos
Para tudo isso que nos cerca e que só pode ser
Um teste. Ah, se isso não for um teste de um deus
Ou de uma máquina ou de uma loucura qualquer,
Que tristeza, que tristeza seria haver consciência!
Ah, vontade enorme do meu ser, sobrepujai tudo isso,
Como a onda enorme que invade as terras secas em fúria,
Como a onda enorme que virá para destruir tudo e possibilitar
Recomeço! A enorme onda que afogará de vez todas as mágoas e crises
Para que renasçamos em outras frequências e, ao menos, busquemos algo
De pureza, sabedoria e amor. Façamos disso um sentido, no recomeço...
Ah, vontade que é o único deus e que é o deus de poucos, pois poucos
Entendem, me mostra a tua verdadeira face, a tua multiplicidade verdadeira
Sancionada em êxtases e memórias de prazeres inabaláveis, me mostra a tua
Face coroada de esplendores instintivos e inerentes à raça humana, me mostra
A face da besta e o deleite de ser um animal e servir somente às vontades naturais!
E façamos disso um sentido, no recomeço... E da compreensão e da busca eterna por compreender
Façamos um emblema que será exibido aos míseros como um exemplo e um convite magistral,
E todo aquele que quiser crescer, crescerá.
Ah, vontade, Me consuma! Me consuma em teu serviço atroz! Queime o meu corpo
Na fogueira das liberdades maduríssimas e conscientes de si mesmas,
Entalhe a minha alma nas oficinas de artes sublimes e de segredos necessários,
sobre as mesas dos mestres e sob os olhos dos discípulos,
E me deixe ser um exemplo de humildade enquanto és o exemplo
De toda a misericórdia que há:
Me consuma
Até a ruina,
Que desmoronarei
Impiedosamente silencioso
Sobre o chão do destino que é meu,
E me dissolverei em líquidos felizes,
Gigantescamente felizes e conformados,
Para depois evaporar e voltar ao centro
Do corpo curvado
Do céu estrelado
Que é minha casa.
domingo, julho 22
A saudade
Que sinto
Do teu corpo é a felicidade atônita
De quem não conhece o gosto,
Mas
Se apaixona cruelmente
Pelo paladar primeiro que invade
As papilas da mente.
A saudade que sinto do teu corpo
É a ausência dos ventos na primavera,
A ociosidade dos polens que flutuam leves
Em fertilizações deveras despreocupadas
Na luz de um sol morno e indigente.
A saudade que sinto
É uma coisa qualquer que rasga
A pele pedante,
É a falta das obscenidades
Inocentes que só são corretas
Na tua carne fresca e pálida,
O desespero desencontrado
Da matéria que ferve e anseia
Penetrar mais profundo no âmago
De outra matéria - a saudade
Que sinto do teu corpo
É saudade de ser uno com tudo!
É a incompetência das almas
Que não se completam, mas
Se esvaziam por um instante
De si mesmas e de tudo ao redor,
No esforço divino de preencher
O outro ser em amores bruscos
E gemidos improvisados.
É o mistério cínico
Do desejo que não
É absoluto, mas imensidão...
Ah, minha saudade é um universo!
A saudade que sinto do teu corpo
É tudo o que tenho, é tudo o que sou.
A saudade que sinto do teu corpo
É a saudade que sinto de mim mesmo
E de todas as outras coisas que não conheci
- Pois que não sei quem és e não sei se sou...
O que sei é que a saudade que sinto do teu corpo
É a labuta mais bela de todas, é a arte! É a vida!
A saudade que sinto
É uma paz que vem
Da dignidade imensurável
De me sentir em ti, como um todo,
Completo:
A saudade
- Que sinto
E não nego -
É a vontade
De ser estrela
E queimar alto
Noite a dentro,
Dia a fora...
Que sinto
Do teu corpo é a felicidade atônita
De quem não conhece o gosto,
Mas
Se apaixona cruelmente
Pelo paladar primeiro que invade
As papilas da mente.
A saudade que sinto do teu corpo
É a ausência dos ventos na primavera,
A ociosidade dos polens que flutuam leves
Em fertilizações deveras despreocupadas
Na luz de um sol morno e indigente.
A saudade que sinto
É uma coisa qualquer que rasga
A pele pedante,
É a falta das obscenidades
Inocentes que só são corretas
Na tua carne fresca e pálida,
O desespero desencontrado
Da matéria que ferve e anseia
Penetrar mais profundo no âmago
De outra matéria - a saudade
Que sinto do teu corpo
É saudade de ser uno com tudo!
É a incompetência das almas
Que não se completam, mas
Se esvaziam por um instante
De si mesmas e de tudo ao redor,
No esforço divino de preencher
O outro ser em amores bruscos
E gemidos improvisados.
É o mistério cínico
Do desejo que não
É absoluto, mas imensidão...
Ah, minha saudade é um universo!
A saudade que sinto do teu corpo
É tudo o que tenho, é tudo o que sou.
A saudade que sinto do teu corpo
É a saudade que sinto de mim mesmo
E de todas as outras coisas que não conheci
- Pois que não sei quem és e não sei se sou...
O que sei é que a saudade que sinto do teu corpo
É a labuta mais bela de todas, é a arte! É a vida!
A saudade que sinto
É uma paz que vem
Da dignidade imensurável
De me sentir em ti, como um todo,
Completo:
A saudade
- Que sinto
E não nego -
É a vontade
De ser estrela
E queimar alto
Noite a dentro,
Dia a fora...
domingo, julho 15
No descampado aberto e fresco
Da mente que tanto vislumbra,
Me pergunto sobre a arte
E sua necessidade. A arte
Que lapida a minha vida,
A arte que é minha filosofia
e que desafia as razões de ser
Tão raso, tão raso e ralo!
Ah, ser humano, que mundo
Almejas quando cantas?
Quais corpos crias nas tantas pedras
Frias das estátuas eretas que são tua
Imagem e semelhança? Que quer
Teu corpo quando dança, quem é que
Desafias quando dizes em palavras
De poesias que a tua vida vale tanto
Que até pranto causa? Que ar respiras
Na pausa das melodias que transpiram
O silêncio arrebatador da inspiração?
Ai, coração recheado de linda leveza,
Mas farto dos dias maciços, entende!
Ah, arte que não é meu ego, mas meu lapidar
Interno, fuga de todas hipocrisias, me explica
Qual mágica tu crias que em ti me apego, me diz
De qual inferno causticante me ajudas a escapar!
Tu que não julgas nem cansas, por mais que cante
Meu lábio desafinado de orelhas mudas,
Tu que não te importas com rima e metro
Inconsequente, arte sem filha ou neto
Presente, arte estéril, mas que tanto cria
- Tu és como a elegante tia que faz doces
E acalentas, sejam dúvidas, sejam amores...
Vieste de outro plano,
Onde a perfeição vive
Majestosa na prática,
Onde tudo convém
Em forma e cor.
Da mente que tanto vislumbra,
Me pergunto sobre a arte
E sua necessidade. A arte
Que lapida a minha vida,
A arte que é minha filosofia
e que desafia as razões de ser
Tão raso, tão raso e ralo!
Ah, ser humano, que mundo
Almejas quando cantas?
Quais corpos crias nas tantas pedras
Frias das estátuas eretas que são tua
Imagem e semelhança? Que quer
Teu corpo quando dança, quem é que
Desafias quando dizes em palavras
De poesias que a tua vida vale tanto
Que até pranto causa? Que ar respiras
Na pausa das melodias que transpiram
O silêncio arrebatador da inspiração?
Ai, coração recheado de linda leveza,
Mas farto dos dias maciços, entende!
Ah, arte que não é meu ego, mas meu lapidar
Interno, fuga de todas hipocrisias, me explica
Qual mágica tu crias que em ti me apego, me diz
De qual inferno causticante me ajudas a escapar!
Tu que não julgas nem cansas, por mais que cante
Meu lábio desafinado de orelhas mudas,
Tu que não te importas com rima e metro
Inconsequente, arte sem filha ou neto
Presente, arte estéril, mas que tanto cria
- Tu és como a elegante tia que faz doces
E acalentas, sejam dúvidas, sejam amores...
Vieste de outro plano,
Onde a perfeição vive
Majestosa na prática,
Onde tudo convém
Em forma e cor.
quarta-feira, julho 11
Sentado,
Iluminado
Por luzes
Que não sei,
Sentado,
Iluminado
Por luzes
Que não sei,
Decidi que vou escrever
Sobre verdades sublimes
Sobre verdades sublimes
Por me pertencerem,
Pois é esta e não outra
A minha
Vontade
Suprema.
Sentado.
E não há
Necessidade
De muito mais
Do que a abrupta,
Pois é esta e não outra
A minha
Vontade
Suprema.
Sentado.
E não há
Necessidade
De muito mais
Do que a abrupta,
A dilacerante e inexplicável
Vontade
Vontade
- Vontade
De ser enorme
De ser rei entre homens,
De brilhar por brilhar apenas,
De brilhar por brilhar apenas,
Como uma estrela que se consome:
Me disseram que poderia fazer
Aquilo que quisesse, desde que
Suportasse sobre mim o peso enorme
Me disseram que poderia fazer
Aquilo que quisesse, desde que
Suportasse sobre mim o peso enorme
Que é
Eu e minhas escolhas.
Sentado,
É o que vou fazer:
Escolhas.
Vou escolher
Ser,
Escolhas.
Vou escolher
Ser,
E seguir com maestria
O meu verdadeiro eu.
Sentado,
Pois o movimento
Maior que há,
O meu verdadeiro eu.
Sentado,
Pois o movimento
Maior que há,
Não se enganem,
Não é o do corpo.
Sentado,
Porque em pé me canso,
E não existe outro propósito
Não é o do corpo.
Sentado,
Porque em pé me canso,
E não existe outro propósito
Senão amar e celebrar aquilo
Que em nós experimenta e pensa.
Que em nós experimenta e pensa.
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