Consciência absurda
De haver luz e matéria
No possível caminho:
Anseias por algo que não
Existe senão na tua doce
Capacidade de sonhar!
E te arrastas por ruas
Inimigas, seguido por sombras,
Lacaio e carrasco de ti mesmo,
Trôpego, atrativo ao olhar infame
Dos zombeteiros de plantão. Ai!
Ai, criatura solitária, onde foi que
Te machucaram com violências
Desnecessárias para que manques
Qual um aleijado de nascença?
Bem se vê que estás ferido, manchado
De sangue teu fato, respingado de urina
Teus sapatos de pobre. Nada é útil nesta
Rotina incessante que só pode acabar
Em morte, pois que a morte é o final
De todas as coisas: por isso é que bebes
Todas as bebidas entontecedoras do mundo
Com a voracidade de um rapaz virgem
Nas tetas de uma prostituta velha e má.
Estás bêbado! Bêbado de ti mesmo
Enquanto caminhas por estas ruas
Inimigas, enquanto tateias os bolsos
À procura do maço de cigarros amassado
Que já fumaste todo, mas não te lembras.
Bem se vê! Estás realmente ferido! Ai!
Levaste uma facada impiedosa e legítima
E do ferimento cruel jorrou purabebedeira!
Ai, as expectativas te traíram em um beco escuro
E com uma lâmina de fio preparado foi degolado
O teu futuro, todavia ainda assim tu vagas pelo mundo
Como quem esteve em uma festa até o sol raiar
E pretende voltar pra casa enquanto é guiado
Pela embriaguez de pés que dançaram a noite toda
E agora estão cansados, muito cansados e não sabem
Ao certo qual o caminho que devem seguir por seguir...
Estás ferido, mas deixe estar! Caminha o quanto podes,
Queima o todo de ti que a tua ainda hemorrágica persistência
Permitir, esgasse o mundo à força para encaixar todas as peças:
Só não morra antes da hora, caminhe! Quando o momento chegar
Sem mistério ou dificuldade, acharás um canto qualquer no espaço
Onde te deitarás enfim e deixarás, exausto, que as coisas se ajustem
Por elas próprias.
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domingo, junho 23
quinta-feira, abril 4
Dois pensamentos sobre a necessidade da arte
I
Expressão,
Expressão é
A salvação!
Sinto urgente
Explodindo em mim
A necessidade pura
E avassaladora de dizer
Que tudo o que vejo
Em minha volta é
Muito estranho. A verdade
É que a realidade
É muito estranha.
Estou inserido
Em um circo de horrores,
Preciso comunicar
- E alguém me lerá
E dirá: "- Hei! Me sinto
Imerso em sonhos também..."
E eu direi: Obrigado. Agora sei
Que nunca estive sozinho...
II
Tenho a necessidade
Do belo quando sutilmente
Me expresso: toda poesia
Que escrevo é um belo
Pedido de ajuda... Tenho
Carências que ninguém pode
Matar, e é destas dores grandes
Que nasce a arte.
No fundo,
Quem se expõe
Só quer encontrar
Outros que se expõe
Também. Isso é a arte:
Uma carta em branco
Enviada a esmo
Pelo correio
Do tempo.
Expressão,
Expressão é
A salvação!
Sinto urgente
Explodindo em mim
A necessidade pura
E avassaladora de dizer
Que tudo o que vejo
Em minha volta é
Muito estranho. A verdade
É que a realidade
É muito estranha.
Estou inserido
Em um circo de horrores,
Preciso comunicar
- E alguém me lerá
E dirá: "- Hei! Me sinto
Imerso em sonhos também..."
E eu direi: Obrigado. Agora sei
Que nunca estive sozinho...
II
Tenho a necessidade
Do belo quando sutilmente
Me expresso: toda poesia
Que escrevo é um belo
Pedido de ajuda... Tenho
Carências que ninguém pode
Matar, e é destas dores grandes
Que nasce a arte.
No fundo,
Quem se expõe
Só quer encontrar
Outros que se expõe
Também. Isso é a arte:
Uma carta em branco
Enviada a esmo
Pelo correio
Do tempo.
Dois pensamentos sobre a participação
I
Não sei se é
Mais forte o meu amor
Pela vida ou o meu medo
De morrer e me nulificar.
Não sei... O que me ocorre
É um sentimento de querer
Contribuir com o todo, com
A raça, com a essência
Da própria existência.
Contribuo: cada movimento
E cada clarão, cada suspiro
Ou cada sonho - cada molécula
Do que sou acrescenta experiência
À realidade nunca estática
Que me inunda e me cerca...
Se há um fim ou um
Começo no infinito
É que é um grande
Mistério.
II
Ativamente,
É com minha arte
Que contribuo
- Porém o faço
Naturalmente como quem
Se espreguiça ou respira
Ou sonha sem nem ao menos
Perceber o que faz.
Contribuo: conto,
Em poesias filosóficas,
Tudo o que registra
Minha mente pequena
E triste, meus olhos
Mais do que estáticos.
Contribuo... Escrevo o que
Sou, me exponho esperando
Que minha nudez atraia outras
Solidões amargas como a minha...
Eu morrerei, mas minha arte
Viverá por mim.
Não sei se é
Mais forte o meu amor
Pela vida ou o meu medo
De morrer e me nulificar.
Não sei... O que me ocorre
É um sentimento de querer
Contribuir com o todo, com
A raça, com a essência
Da própria existência.
Contribuo: cada movimento
E cada clarão, cada suspiro
Ou cada sonho - cada molécula
Do que sou acrescenta experiência
À realidade nunca estática
Que me inunda e me cerca...
Se há um fim ou um
Começo no infinito
É que é um grande
Mistério.
II
Ativamente,
É com minha arte
Que contribuo
- Porém o faço
Naturalmente como quem
Se espreguiça ou respira
Ou sonha sem nem ao menos
Perceber o que faz.
Contribuo: conto,
Em poesias filosóficas,
Tudo o que registra
Minha mente pequena
E triste, meus olhos
Mais do que estáticos.
Contribuo... Escrevo o que
Sou, me exponho esperando
Que minha nudez atraia outras
Solidões amargas como a minha...
Eu morrerei, mas minha arte
Viverá por mim.
Dois pensamentos constrangidos diante do todo
I
Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.
Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.
II
Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?
Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.
Seria um belo dia
De sol este que se abre,
Não fosse ele um belo
Dia de chuva fechada
Dentro de mim.
Não importa, tudo
É belo mesmo sendo
Feio, tudo me agrada
Em demasia mesmo quando
Me desagrada
- Nunca existiu alguém
Tão grato pelo tormento
Que sente: antes sentir
Dor do que sentir nada.
Deixem! Deixem, não as espantem:
Essas aves me devorarão ainda
Consciente, mas o que trarei nos olhos
Não poderemos chamar tristeza,
Pois que será leve e divino
Diante da morte... Obrigado.
II
Obrigado. Tudo o que vejo,
Consinto, experiencio ou beijo:
Tudo o que sou (e o que sou
É o que lembro) contribui
Para o crescimento atroz
Deste universo misteriosamente
Desenrolado. Planos! Planos
Que não enxergo, não suponho,
Sequer entendo... Planos...
Como pode a ordem dos fatos
Ocorrer com essa fluidez
Esmagadora? Como não sentir
Esperança e paz diante
Do caos?
Eu sou um rio carregado
De sedimentos da montanha,
E se eu corro para o mar
Que me abraçará é que,
No fundo, não há outra
Opção.
domingo, março 31
Dois pensamentos sobre eu ser
I
Tenho em mim ímpetos
Poderosos e selvagens
Que dificultam verdadeiramente
A minha convivência,
O meu argumento,
O meu hálito
- O que é isso tudo
Não é tão importante
Quanto tudo o que sou
Simplesmente, pois que sou
Consciente:
Abro a janela do quarto
Que são meus olhos
E miro com competência
A luz do dia ou o mistério
Noturno, pois que sei
Eximiamente bem que é
Toda a paisagem desenhada
Para mim.
II
Há momentos
Extremamente arcanos
Onde o silêncio que paira
No ar como uma pluma inocente
É tão leve e tão frágil que é
Possível perceber todo o cenário
Montado, a atuação das árvores,
O ensaio das nuvens:
A vida
É uma peça
De teatro desenrolada
No palco absurdo da realidade
De haver tempo e espaço dentro
E fora dos deuses, de ser possível
Respirar e supor e dançar
E criar com isso uma arte
Chamada consciência
E, somente então, esbarrar
Na verdade que é profunda,
Pois que diz que o momento
É tudo o que há - e isso
Faz com que todo o medo
De errar morra...
Tenho em mim ímpetos
Poderosos e selvagens
Que dificultam verdadeiramente
A minha convivência,
O meu argumento,
O meu hálito
- O que é isso tudo
Não é tão importante
Quanto tudo o que sou
Simplesmente, pois que sou
Consciente:
Abro a janela do quarto
Que são meus olhos
E miro com competência
A luz do dia ou o mistério
Noturno, pois que sei
Eximiamente bem que é
Toda a paisagem desenhada
Para mim.
II
Há momentos
Extremamente arcanos
Onde o silêncio que paira
No ar como uma pluma inocente
É tão leve e tão frágil que é
Possível perceber todo o cenário
Montado, a atuação das árvores,
O ensaio das nuvens:
A vida
É uma peça
De teatro desenrolada
No palco absurdo da realidade
De haver tempo e espaço dentro
E fora dos deuses, de ser possível
Respirar e supor e dançar
E criar com isso uma arte
Chamada consciência
E, somente então, esbarrar
Na verdade que é profunda,
Pois que diz que o momento
É tudo o que há - e isso
Faz com que todo o medo
De errar morra...
terça-feira, março 5
20.02.2013
I
Tenho em mente
Uma sensível e lúcida
Razão quando penso
Em não pensar como
Pensam os outros:
Tudo o que somos
É imitação, por isso
Me alegra tanto a originalidade.
Quero que se exploda
O gosto ou desgosto
Alheio - cuidar do meu
Próprio pensamento
Já é propósito demais,
Complicação demais,
E eu gosto é do sossego:
Tudo em mim
que conseguir
Independência,
Independente
Será.
II
Não quero ser
Um bom poeta:
Bons poetas
Já existem
Aos montes.
Talvez até mesmo
Todo o poeta plausível
Seja um bom poeta
- Mas não!
Eu quero
Muito ser,
E portanto sou,
O eu poeta,
O eu tudo,
O eu mesmo:
Se sou insignificante
Ante o universo,
Ao menos sei que sou
Originalmente
Insignificante.
III
Essa coisa
De pequeneza
Ou grandeza
É uma armadilha
Sutil
Da mente.
Tenho em mente
Uma sensível e lúcida
Razão quando penso
Em não pensar como
Pensam os outros:
Tudo o que somos
É imitação, por isso
Me alegra tanto a originalidade.
Quero que se exploda
O gosto ou desgosto
Alheio - cuidar do meu
Próprio pensamento
Já é propósito demais,
Complicação demais,
E eu gosto é do sossego:
Tudo em mim
que conseguir
Independência,
Independente
Será.
II
Não quero ser
Um bom poeta:
Bons poetas
Já existem
Aos montes.
Talvez até mesmo
Todo o poeta plausível
Seja um bom poeta
- Mas não!
Eu quero
Muito ser,
E portanto sou,
O eu poeta,
O eu tudo,
O eu mesmo:
Se sou insignificante
Ante o universo,
Ao menos sei que sou
Originalmente
Insignificante.
III
Essa coisa
De pequeneza
Ou grandeza
É uma armadilha
Sutil
Da mente.
sexta-feira, março 1
Três pensamentos influenciados por um vinho barato
I
O mormaço
Do meio
De fevereiro,
E eu, improdutivo,
Rendo meu ser
E minha consciência
A um vinho seco
Que me aquece
Mais do que preciso
E destoa este verão:
O que pensar
Diante de um tédio
Tão enorme? Observo
Com olhos prontos a tormenta
Que se arma na noite quente,
O vento que varre a dor do mundo:
O que, além da beleza,
Justifica a minha existência?
II
Tudo o que se passa,
Inumerável, é informação
Processada no grande cérebro
Da realidade - ai! qualquer
Fração disso tudo é demais
Para minha consciência,
Qualquer vírgula divina
É um ponto aos meus olhos
Leigos de mortal.
Quem me dera, ai, quem
Me dera saber tudo por
Decreto, meu unir novamente
Ao uno primordial; ai, eu quero
Retornar a deus, mas sem morrer!
Ai, estar vivo me amargura; ai,
Ser e estar é um desgosto
Sôfrego... ai... já agonizo agora
A agonia de amanhã, pois que viver
Me aborrece, mas a morte me assusta:
Me exilem
Bem longe
De tudo isso...
III
Se faz jus ao nome
O vinho que bebo,
Se presta honras
Ao Dionísio enorme
Que me habita e me
Consola, se me mata
A sede e me deixa com sono,
Se me lembra da melancolia
E da tragédia, se me lembra
Em cada gole largo um beijo
Voluptuoso de quem eu mais
Amei: qual motivo para não
Beber haveria?
Aceno ao todo que me cerca
Com meus olhos que cruzaram
A bruma - e foi o vinho
Quem guiou a barca rota
Pelo lago solitário e sem
Sinalização amiga:
Nas veias do meu instinto
Circula a embriaguez.
O mormaço
Do meio
De fevereiro,
E eu, improdutivo,
Rendo meu ser
E minha consciência
A um vinho seco
Que me aquece
Mais do que preciso
E destoa este verão:
O que pensar
Diante de um tédio
Tão enorme? Observo
Com olhos prontos a tormenta
Que se arma na noite quente,
O vento que varre a dor do mundo:
O que, além da beleza,
Justifica a minha existência?
II
Tudo o que se passa,
Inumerável, é informação
Processada no grande cérebro
Da realidade - ai! qualquer
Fração disso tudo é demais
Para minha consciência,
Qualquer vírgula divina
É um ponto aos meus olhos
Leigos de mortal.
Quem me dera, ai, quem
Me dera saber tudo por
Decreto, meu unir novamente
Ao uno primordial; ai, eu quero
Retornar a deus, mas sem morrer!
Ai, estar vivo me amargura; ai,
Ser e estar é um desgosto
Sôfrego... ai... já agonizo agora
A agonia de amanhã, pois que viver
Me aborrece, mas a morte me assusta:
Me exilem
Bem longe
De tudo isso...
III
Se faz jus ao nome
O vinho que bebo,
Se presta honras
Ao Dionísio enorme
Que me habita e me
Consola, se me mata
A sede e me deixa com sono,
Se me lembra da melancolia
E da tragédia, se me lembra
Em cada gole largo um beijo
Voluptuoso de quem eu mais
Amei: qual motivo para não
Beber haveria?
Aceno ao todo que me cerca
Com meus olhos que cruzaram
A bruma - e foi o vinho
Quem guiou a barca rota
Pelo lago solitário e sem
Sinalização amiga:
Nas veias do meu instinto
Circula a embriaguez.
sexta-feira, fevereiro 1
06.01.2012
Que desabe sobre mim,
Pois que assim
É que deve ser,
O peso imensurável
Da vida, que desabe
Com toda a sua fúria,
Pois que sou só forças
Para tudo em mim
Conter e sustentar
E expandir.
Que desabe, colossal
E orgânica,
Que meus braços são pontes
Para toda a física e metafísica
E poesia e filosofia
De viver; que desabe
- Impiedosa, se possível -
Que meu ser é todo tensão
Na agonia da ansiedade
De invadir e explodir
Dentro de ti.
Desabe, imensa,
Que me chamo
Virilidade.
Pois que assim
É que deve ser,
O peso imensurável
Da vida, que desabe
Com toda a sua fúria,
Pois que sou só forças
Para tudo em mim
Conter e sustentar
E expandir.
Que desabe, colossal
E orgânica,
Que meus braços são pontes
Para toda a física e metafísica
E poesia e filosofia
De viver; que desabe
- Impiedosa, se possível -
Que meu ser é todo tensão
Na agonia da ansiedade
De invadir e explodir
Dentro de ti.
Desabe, imensa,
Que me chamo
Virilidade.
quinta-feira, janeiro 31
Dois pensamentos sobre a Morte
I
A morte é um exagero.
É um exagero e não sei
O que escrever ao certo
Sobre ela: tudo já foi dito,
Mas tudo é mera opinião.
Não posso, porque não é possível,
Falar sobre a morte, porque falar
Sobre a morte é falar sobre
A vida e o medo de perder,
E falar sobre a vida e o medo
De perder é divagar, e divagar
É perder a vida, mas não o medo.
Não! Quero mais é viver,
Viver como um animal selvagem
Correndo campinas e vales,
Viver como um animal em êxtase,
Deixando que a morte chegue
Como chega o sono em quem
Está cansado, porém não pensa
Em dormir e, afinal, dorme:
Quero morrer
De viver
Demais.
II
Tudo o que deixarei
Aqui e incompleto,
Todas as frases
Por dizer e não ditas,
Não ver mais os seios
Do meu amor e não mais
Saber calor na luz do sol:
Todo o medo que há
É medo de perder,
E temer a morte
É temer todas as perdas
Ao mesmo tempo.
Sossega, meu coração,
Que a verdade é que
Nada nos pertence,
Então nada nos importa.
Deixo ao universo
Suas próprias preocupações:
Viver é piscar os olhos.
A morte é um exagero.
É um exagero e não sei
O que escrever ao certo
Sobre ela: tudo já foi dito,
Mas tudo é mera opinião.
Não posso, porque não é possível,
Falar sobre a morte, porque falar
Sobre a morte é falar sobre
A vida e o medo de perder,
E falar sobre a vida e o medo
De perder é divagar, e divagar
É perder a vida, mas não o medo.
Não! Quero mais é viver,
Viver como um animal selvagem
Correndo campinas e vales,
Viver como um animal em êxtase,
Deixando que a morte chegue
Como chega o sono em quem
Está cansado, porém não pensa
Em dormir e, afinal, dorme:
Quero morrer
De viver
Demais.
II
Tudo o que deixarei
Aqui e incompleto,
Todas as frases
Por dizer e não ditas,
Não ver mais os seios
Do meu amor e não mais
Saber calor na luz do sol:
Todo o medo que há
É medo de perder,
E temer a morte
É temer todas as perdas
Ao mesmo tempo.
Sossega, meu coração,
Que a verdade é que
Nada nos pertence,
Então nada nos importa.
Deixo ao universo
Suas próprias preocupações:
Viver é piscar os olhos.
sexta-feira, janeiro 18
Ode à saudade que não morre
Para A. L.
I
Eu me perdi
Na mata,
Eu me perdi
Quando procurava
Uma flor desfalecida
Para te presentear,
Quando levava a vida
Nos lábios que te pronunciavam
E sombras frescas na algibeira
E pés descalços por humildade,
Eu me perdi na mata
- Pois todas as flores ao sol
Tem o teu perfume morno,
Pois a terra tem o gosto
Da tua pele primordial
E os polens que flutuam
Sua a tua fertilidade:
Senti nas mãos
Tuas coxas úmidas
Quando toquei de leve
O rio.
II
Perdido
Na mata
Ouço tua voz
Que me chama
Por todos os lados
- És o canto de pássaros
Simplórios e o riso
Largo das corredeiras
E das cascatas. Perdido
(De mim mesmo) na mata,
Imprimo em toda e qualquer
Coisa a saudade
Que sinto: e todas árvores
São tua cintura quando as toco,
E teu seio é que repousa maduro
Nas frutas que pendem à minha
Boca e todas as pedras robustas
E esnobes que vejo são a tua
Teimosia transfigurada e com musgos
À beira dos caminhos.
E, no final, não existe rejeição real:
Não me podes negar teu corpo, pois
Que teu corpo é todas as coisas
Que aqui estão para minhas mãos
E meus lábios.
I
Eu me perdi
Na mata,
Eu me perdi
Quando procurava
Uma flor desfalecida
Para te presentear,
Quando levava a vida
Nos lábios que te pronunciavam
E sombras frescas na algibeira
E pés descalços por humildade,
Eu me perdi na mata
- Pois todas as flores ao sol
Tem o teu perfume morno,
Pois a terra tem o gosto
Da tua pele primordial
E os polens que flutuam
Sua a tua fertilidade:
Senti nas mãos
Tuas coxas úmidas
Quando toquei de leve
O rio.
II
Perdido
Na mata
Ouço tua voz
Que me chama
Por todos os lados
- És o canto de pássaros
Simplórios e o riso
Largo das corredeiras
E das cascatas. Perdido
(De mim mesmo) na mata,
Imprimo em toda e qualquer
Coisa a saudade
Que sinto: e todas árvores
São tua cintura quando as toco,
E teu seio é que repousa maduro
Nas frutas que pendem à minha
Boca e todas as pedras robustas
E esnobes que vejo são a tua
Teimosia transfigurada e com musgos
À beira dos caminhos.
E, no final, não existe rejeição real:
Não me podes negar teu corpo, pois
Que teu corpo é todas as coisas
Que aqui estão para minhas mãos
E meus lábios.
quinta-feira, janeiro 10
04.01.2013
I
Medo,
Ter medo
É degradante.
Eu realmente
Não quero ter medo,
Mas o medo não é
Algo que se tem, é
Algo que se sente.
Cesso, enfim, o eu
Que há em todos
Que sou, e a vida
Já não é importante,
E sentir já não faz
Sentido - pois que acordei
Aqui para ser o santo
Que já sou, pois que nasci
Para o silêncio da contemplação,
E quem contempla não deve
Sentir medo, senão o medo
De sentir medo.
II
Meu batismo
Foi de luz
No meio da mata,
Meu batismo foi
De luz e a lua
O executou.
Meu batismo
Foi de luz,
Foi de luz
De prata,
Meu batismo
Foi de luz
E agora só resta
Esta minha religião:
Observo e aprendo
Com a mata e os seres
Da mata e com o homem
Avesso ao homem.
Eu cresço e sou o deus
De mim mesmo.
Medo,
Ter medo
É degradante.
Eu realmente
Não quero ter medo,
Mas o medo não é
Algo que se tem, é
Algo que se sente.
Cesso, enfim, o eu
Que há em todos
Que sou, e a vida
Já não é importante,
E sentir já não faz
Sentido - pois que acordei
Aqui para ser o santo
Que já sou, pois que nasci
Para o silêncio da contemplação,
E quem contempla não deve
Sentir medo, senão o medo
De sentir medo.
II
Meu batismo
Foi de luz
No meio da mata,
Meu batismo foi
De luz e a lua
O executou.
Meu batismo
Foi de luz,
Foi de luz
De prata,
Meu batismo
Foi de luz
E agora só resta
Esta minha religião:
Observo e aprendo
Com a mata e os seres
Da mata e com o homem
Avesso ao homem.
Eu cresço e sou o deus
De mim mesmo.
terça-feira, janeiro 8
Ode Felina
I
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
domingo, dezembro 9
30 de Novembro de 2012
I
Quero fugir
Deste planeta,
Quero fugir
E me encontrar,
Quero fugir
Como quem morreu.
Quero fugir:
Serei fantasma
Taciturno,
Tecido das sombras
Do vento
(E a única
Gaiola que há
É o medo).
Quero fugir, e quando quero,
Fujo: e quando eu fugir
Não me verão
Senão na saudade
Que causarei
Como um defunto
Causa.
Quero fugir
Deste planeta,
Quero fugir
E me encontrar,
Quero fugir
Como quem morreu.
Quero fugir:
Serei fantasma
Taciturno,
Tecido das sombras
Do vento
(E a única
Gaiola que há
É o medo).
Quero fugir, e quando quero,
Fujo: e quando eu fugir
Não me verão
Senão na saudade
Que causarei
Como um defunto
Causa.
terça-feira, dezembro 4
Ode aos Pastos
I
A vida,
Quando me encontro
Na natureza brutal do campo,
É tão mais simples, oh, cheiro
De bosta e pasto quente, oh,
Infindáveis moscas, mutucas,
Mosquitos e rãs, mormaço violento
Na barra do córrego, lama, grama,
Polens voadores que pousam em nós:
A vida,
Quando me encontro
Na natureza solitária,
Na natureza intocada,
Na natureza apática,
É tão mais simples...
A vida
Não passa
De repetição
Na natureza
Brutal do campo
- E a flor que colhi
Voltará à terra macia
Quando
Teus cabelos
Novamente
Não quiserem mais
Os meus regalos.
II
E assim eu vi a vida,
No despreparo da minha sabedoria,
Perdido entre árvores hostis,
Embrenhado em matos que arranham
A pele submissa, assim eu vi a vida:
Um peixe agonizando em minhas mãos,
Meus pés dentro do córrego
E toda a falta de coragem
Para devolver
Aquilo que à água
Pertence.
Um peixe apenas,
Um peixe que poderia
Ser eu, morrendo, sem ar,
Olhos estáticos de criatura
Inocente em minhas mãos...
E todos
Ao meu redor
- Inclusa tu, flores
Como uma coroa a te decorar -
Que nunca entenderiam
O que, exatamente, eu senti
Naquele momento
Eterno.
A vida,
Quando me encontro
Na natureza brutal do campo,
É tão mais simples, oh, cheiro
De bosta e pasto quente, oh,
Infindáveis moscas, mutucas,
Mosquitos e rãs, mormaço violento
Na barra do córrego, lama, grama,
Polens voadores que pousam em nós:
A vida,
Quando me encontro
Na natureza solitária,
Na natureza intocada,
Na natureza apática,
É tão mais simples...
A vida
Não passa
De repetição
Na natureza
Brutal do campo
- E a flor que colhi
Voltará à terra macia
Quando
Teus cabelos
Novamente
Não quiserem mais
Os meus regalos.
II
E assim eu vi a vida,
No despreparo da minha sabedoria,
Perdido entre árvores hostis,
Embrenhado em matos que arranham
A pele submissa, assim eu vi a vida:
Um peixe agonizando em minhas mãos,
Meus pés dentro do córrego
E toda a falta de coragem
Para devolver
Aquilo que à água
Pertence.
Um peixe apenas,
Um peixe que poderia
Ser eu, morrendo, sem ar,
Olhos estáticos de criatura
Inocente em minhas mãos...
E todos
Ao meu redor
- Inclusa tu, flores
Como uma coroa a te decorar -
Que nunca entenderiam
O que, exatamente, eu senti
Naquele momento
Eterno.
sexta-feira, novembro 30
10.10.2012
I
Numa manhã
Longa de chuva,
É engraçado e constrangedor
Perceber como se perdem embrenhados
Os pensamentos brisas e resquícios
De Primavera no bosque antagônico
Agora outonizado das desilusões
Amorosas que mais causam saudade...
E o que é a saudade
Para que eu a pense,
Se todas as sensações
Que tenho são ausências
E transtornos rudes
Das vezes em que tentei amar,
Mas só me destruí?
E o que é o amor
Para que eu o pense,
Se tudo o que amamos são imagens
E toda luz
Evanesce?
Está em mim,
Porém, ser curioso
Para com tudo
Que há...
II
Eu sofro,
Profundamente,
A senda do bardo
Desiludido com a vida
- E vou,
Como ele,
Buscar o único conforto
Que é plausível
Na solidão
Da minha quimera:
Eu vou fugir
Pela janela dos fundos,
Escalando trepadeiras,
Sem beijar à face nenhuma
Adormecida na minha leve
Despedida...
E de mim
Só restará uma vaga
Sensação, por onde
Eu passar, de que o silêncio
Tenta dizer
Algo.
Numa manhã
Longa de chuva,
É engraçado e constrangedor
Perceber como se perdem embrenhados
Os pensamentos brisas e resquícios
De Primavera no bosque antagônico
Agora outonizado das desilusões
Amorosas que mais causam saudade...
E o que é a saudade
Para que eu a pense,
Se todas as sensações
Que tenho são ausências
E transtornos rudes
Das vezes em que tentei amar,
Mas só me destruí?
E o que é o amor
Para que eu o pense,
Se tudo o que amamos são imagens
E toda luz
Evanesce?
Está em mim,
Porém, ser curioso
Para com tudo
Que há...
II
Eu sofro,
Profundamente,
A senda do bardo
Desiludido com a vida
- E vou,
Como ele,
Buscar o único conforto
Que é plausível
Na solidão
Da minha quimera:
Eu vou fugir
Pela janela dos fundos,
Escalando trepadeiras,
Sem beijar à face nenhuma
Adormecida na minha leve
Despedida...
E de mim
Só restará uma vaga
Sensação, por onde
Eu passar, de que o silêncio
Tenta dizer
Algo.
sábado, outubro 27
Ode tristíssimo de um dia chuvoso
I
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
quinta-feira, agosto 16
Não quero, meus amigos, cair na armadilha
Da repetição, da tecla inutilmente martelada,
Do esforço honesto, bruto e vão, mas acontece
Que é preciso dar ouvidos: eu sou tudo, eu sou!
Eu sou o sol enorme resplandecendo calorosamente,
Eu sou o poder emanado de todas as estrelas majestosas!
Eu sou o enterro do empresário preocupado, a festa
Garbosa de uma viúva que voltou a ter alegria,
O menino inocente que se masturba e se consome
Pensando em amores lhe foram ensinados
E que são falsos. Eu sou a terra se movendo brusca,
Eu sou o vulcão expelindo o fogo, mas não sou feito
De ódio, não, o ódio é ignorância, e ignorância
É imperfeição. Eu sou o perfeito, o diminuto
Enorme, o taxista que deseja retornar ao lar
Para se embriagar em tristezas destiladas.
Eu sou tudo, eu sou!
Eu sou tu, meu amigo,
E tu me és! Nossa consciência
É uma, como é um os milhões de mundos
Magníficos e exuberantes que criamos
Para nós mesmos! Eu sou a música, tu és a música,
Tudo é a música! Eu sou a sombra que apazígua
E guarda mistérios que um dia serão conhecidos,
Porque também os sou - o grão, a água, a ave simplória,
O solo germinando tudo o que um dia se chamará vida:
Eu sou!
Queiramos nós, amigos, o poder deste verbo sempre
Presente e completamente compreendido, pois somos
Oniscientes e espetaculares e poderosos e possíveis!
Queiramos o poder de querer, sobre todas as barreiras
Que nós mesmos tentamos nos impor! Eu sou!
Eu sou,
E não há
O que fuja
Dos meus olhos
Que veem a tudo.
Da repetição, da tecla inutilmente martelada,
Do esforço honesto, bruto e vão, mas acontece
Que é preciso dar ouvidos: eu sou tudo, eu sou!
Eu sou o sol enorme resplandecendo calorosamente,
Eu sou o poder emanado de todas as estrelas majestosas!
Eu sou o enterro do empresário preocupado, a festa
Garbosa de uma viúva que voltou a ter alegria,
O menino inocente que se masturba e se consome
Pensando em amores lhe foram ensinados
E que são falsos. Eu sou a terra se movendo brusca,
Eu sou o vulcão expelindo o fogo, mas não sou feito
De ódio, não, o ódio é ignorância, e ignorância
É imperfeição. Eu sou o perfeito, o diminuto
Enorme, o taxista que deseja retornar ao lar
Para se embriagar em tristezas destiladas.
Eu sou tudo, eu sou!
Eu sou tu, meu amigo,
E tu me és! Nossa consciência
É uma, como é um os milhões de mundos
Magníficos e exuberantes que criamos
Para nós mesmos! Eu sou a música, tu és a música,
Tudo é a música! Eu sou a sombra que apazígua
E guarda mistérios que um dia serão conhecidos,
Porque também os sou - o grão, a água, a ave simplória,
O solo germinando tudo o que um dia se chamará vida:
Eu sou!
Queiramos nós, amigos, o poder deste verbo sempre
Presente e completamente compreendido, pois somos
Oniscientes e espetaculares e poderosos e possíveis!
Queiramos o poder de querer, sobre todas as barreiras
Que nós mesmos tentamos nos impor! Eu sou!
Eu sou,
E não há
O que fuja
Dos meus olhos
Que veem a tudo.
terça-feira, agosto 14
Que poderoso
É esse sentimento
Que tenho trazido dentro
De mim desde o momento
Em que acordei para a vida que há,
Que tenho trazido dentro
De mim desde o momento
Em que acordei para a vida que há,
Para a vida que sou - porque descobri
Que sou o mundo, e sou o mundo e o criador
Do mundo, porque descobri que o mundo não existe
Sem que eu exista, e que todas as coisas são a mesma coisa.
Que poderoso esse sentimento
Que é gosto de vinho e cheiro de mar,
Que sou o mundo, e sou o mundo e o criador
Do mundo, porque descobri que o mundo não existe
Sem que eu exista, e que todas as coisas são a mesma coisa.
Que poderoso esse sentimento
Que é gosto de vinho e cheiro de mar,
E que é olhar as cores da existência, olhar o sol
Trespassando as nuvens como uma espada impiedosa
E ver que o céu está sangrando o meu sangue e a minha dor!
Que poderoso esse sentimento que é amor completo, que é riso
De amigos compartilhando bebidas e fumaças e pensamentos,
Que é tudo isso sobre o sereno, que é andar noite a dentro
Trespassando as nuvens como uma espada impiedosa
E ver que o céu está sangrando o meu sangue e a minha dor!
Que poderoso esse sentimento que é amor completo, que é riso
De amigos compartilhando bebidas e fumaças e pensamentos,
Que é tudo isso sobre o sereno, que é andar noite a dentro
Sem preocupações sobre quando nascerá o dia imaturo
Ou se haverá dinheiro ou haverá trabalho ou haverá
Comida... Que poderoso é existir simplesmente
Como um animal gastando a si mesmo
Em êxtases de simplicidade e gozo.
Ou se haverá dinheiro ou haverá trabalho ou haverá
Comida... Que poderoso é existir simplesmente
Como um animal gastando a si mesmo
Em êxtases de simplicidade e gozo.
Alegria, meu coração,
Alegria! Nada pode dar errado
Pois que não existe o erro e nem sequer
Existe a imperfeição - tudo é o que é por ser
Simplesmente, como as flores que desabrocham
Não para que sintamos seu perfume, mas porque não
Sabem mais nada senão desabrochar, como os rios correndo
Porque não sabem andar lentamente. Como abelhas sendo abelhas
E cães sendo cães, sejamos nós humanos sendo humanos,
Completamente, simplesmente humanos, porque não há
Fragmentações entre nós e nós mesmos, e não há
Fragmentações entre nós e o resto, porque nós
É que somos o resto, e o resto é que nos é.
Alegria! Nada pode dar errado
Pois que não existe o erro e nem sequer
Existe a imperfeição - tudo é o que é por ser
Simplesmente, como as flores que desabrocham
Não para que sintamos seu perfume, mas porque não
Sabem mais nada senão desabrochar, como os rios correndo
Porque não sabem andar lentamente. Como abelhas sendo abelhas
E cães sendo cães, sejamos nós humanos sendo humanos,
Completamente, simplesmente humanos, porque não há
Fragmentações entre nós e nós mesmos, e não há
Fragmentações entre nós e o resto, porque nós
É que somos o resto, e o resto é que nos é.
Alegria, meu coração,
Alegria! Porque tu és tudo,
Meu coração, e és, portanto, correto
Em todos os teus sentimentos e dores, porque
És correto, principalmente, quando te alegras! Alegria!
Porque a vida foi feita para ser vida, cheia de abismos escuros
Para que possamos entender a perfeição dos autos
Picos frescos, e cheia de alturas para que não
Desejemos a queda demasiadamente.
Alegria!
Que chegará
Um momento fatídico
Em que nada sentirás, coração,
Mas, até lá, é tua única
Obrigação real
Alegria! Porque tu és tudo,
Meu coração, e és, portanto, correto
Em todos os teus sentimentos e dores, porque
És correto, principalmente, quando te alegras! Alegria!
Porque a vida foi feita para ser vida, cheia de abismos escuros
Para que possamos entender a perfeição dos autos
Picos frescos, e cheia de alturas para que não
Desejemos a queda demasiadamente.
Alegria!
Que chegará
Um momento fatídico
Em que nada sentirás, coração,
Mas, até lá, é tua única
Obrigação real
Sentir muito
E nada
Mais.
E nada
Mais.
sábado, agosto 11
Agosto,
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
Cheguei ao meio
De Agosto
E não me encontrei
- O que encontrei
Foi este estado estranho
Que não é negro nem branco,
Que não é doce ou salgado.
Encontrei foi este estado
Deplorável, no qual tenho
Náuseas de me encontrar,
No qual preciso me esforçar
Para escrever, no qual a sensibilidade
Não vem por si mesma, mas empurrada
Pela goela à baixo.
Passou Janeiro luminoso,
Fevereiro sensual e escandalizado,
Março de todas as redenções humanas,
Abril me apascentou o ser e glória
E Maio foi mês de bebedeiras
- E vieram Junho e Julho como irmãos
Que cometem incesto em uma tentativa
De se aquecerem, e Agosto caiu por cima
De mim como uma rocha maciça sem piedade,
Como um padre velhaco e retrógrado
Com o dedo em riste, balbuciando acusativo
Todos os meus pecados, como se ele mesmo
Fosse melhor do que eu.
Onde eu estou, onde? Há algo aqui que se perdeu,
Há algo aqui que sempre se perde, ciclicamente,
Como a marca das estações - solstício da minha vida,
Da minha vida de noites muito longas e dias
Que de tão curtos quase não existem,
E a minha essência sendo deflorada
E jogada na amargura do abandono.
Que polos são esses que se invertem sem aviso
Dentro da minha cabeça quando menos espero?
Não, Agosto, não, não tens gosto de nada!
Não és doce, muito menos salgado
- Porque nem lágrimas eu tenho que me salguem
A boca ou me inspirem sensações de ânsia e agonia,
Não tenho lágrimas de olhar a paisagem... estou estéril,
Estou desértico, seco e frio como as dunas sopradas de vento.
Estou morrendo, Agosto, em um eclipse não anunciado,
Em uma penumbra que não cede à luz nem à treva.
Porém me restará Setembro, e eu serei cinza morna...
E das brasas que se supunham apagadas, de mim mesmo
Renascerei aos poucos - como a fagulha que encontra
Madeira nova: eu ressurgirei! Estou certo que ressurgirei, Agosto!
Não serás tu a me extinguir, pois que eu sempre inflamo
De meus restos, eu sempre ressurjo das minhas próprias fuligens!
Haverá de emergir uma alvorada que me conduza
Ao equinócio que é fulgor pontual,
E o sol que eu sou voltará enorme em Dezembro desnudado,
Sim, até Dezembro nascerá novamente a juba que me tosaste,
Agosto, e estarei pronto para explodir de orgulho e virilidade
E gratidão de ter superado,
Não a ti,
Mas a mim mesmo.
quinta-feira, agosto 9
De uma maneira estranha
E inexplicavelmente impulsiva,
Vez ou outra me sinto
Um completo suicida
- Me corroem ímpetos
De voar, absurdamente
Desvairado, do décimo
Quarto andar ao chão.
Seria um voo rápido,
Um vislumbre mágico da cidade
Inteira, por um ou dois segundos,
Surgindo e crescendo
Dentro de meus olhos...
Mas algo me segura,
Ou eu mesmo me impeço:
Que fagulha de vida é esta
Que me força a esperar?
A morte é certa - porque
A pressa? Terei em mim
A terra fria quando for hora...
Há algo
Que me diz que me surpreenderei
Muito
Enquanto teimar em respirar.
E recolho minhas asas.
E inexplicavelmente impulsiva,
Vez ou outra me sinto
Um completo suicida
- Me corroem ímpetos
De voar, absurdamente
Desvairado, do décimo
Quarto andar ao chão.
Seria um voo rápido,
Um vislumbre mágico da cidade
Inteira, por um ou dois segundos,
Surgindo e crescendo
Dentro de meus olhos...
Mas algo me segura,
Ou eu mesmo me impeço:
Que fagulha de vida é esta
Que me força a esperar?
A morte é certa - porque
A pressa? Terei em mim
A terra fria quando for hora...
Há algo
Que me diz que me surpreenderei
Muito
Enquanto teimar em respirar.
E recolho minhas asas.
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