Para A. L.
I
Eu me perdi
Na mata,
Eu me perdi
Quando procurava
Uma flor desfalecida
Para te presentear,
Quando levava a vida
Nos lábios que te pronunciavam
E sombras frescas na algibeira
E pés descalços por humildade,
Eu me perdi na mata
- Pois todas as flores ao sol
Tem o teu perfume morno,
Pois a terra tem o gosto
Da tua pele primordial
E os polens que flutuam
Sua a tua fertilidade:
Senti nas mãos
Tuas coxas úmidas
Quando toquei de leve
O rio.
II
Perdido
Na mata
Ouço tua voz
Que me chama
Por todos os lados
- És o canto de pássaros
Simplórios e o riso
Largo das corredeiras
E das cascatas. Perdido
(De mim mesmo) na mata,
Imprimo em toda e qualquer
Coisa a saudade
Que sinto: e todas árvores
São tua cintura quando as toco,
E teu seio é que repousa maduro
Nas frutas que pendem à minha
Boca e todas as pedras robustas
E esnobes que vejo são a tua
Teimosia transfigurada e com musgos
À beira dos caminhos.
E, no final, não existe rejeição real:
Não me podes negar teu corpo, pois
Que teu corpo é todas as coisas
Que aqui estão para minhas mãos
E meus lábios.
Mostrando postagens com marcador Ode. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ode. Mostrar todas as postagens
sexta-feira, janeiro 18
Ode ao Tédio
I
Acordar,
Dia após dia,
Escovar
Infinitamente
Os dentes,
Comer para sentir
Fome novamente,
Caminhar e caminhar,
Mais e mais,
Mais de tudo,
Menos daquilo,
Desejos, tristezas,
Encontros que acabam
Em despedidas:
A vida é um ciclo
De diferentes coisas
Iguais. Até que não
Acordemos mais,
Nem escovemos os dentes,
Nem comamos ou sintamos
Fome ou desejo ou tristeza.
Movimento eterno até que haja
Repouso eterno, inércia de ser.
II
Às vezes,
Penso que ganhei
De presente
Uma bomba,
E tudo o que
Cabe em mim
É o sentimento
De não saber
Ao certo
Como agradecer:
Eu sou um sorriso
Fraco e amarelo
Acordar,
Dia após dia,
Escovar
Infinitamente
Os dentes,
Comer para sentir
Fome novamente,
Caminhar e caminhar,
Mais e mais,
Mais de tudo,
Menos daquilo,
Desejos, tristezas,
Encontros que acabam
Em despedidas:
A vida é um ciclo
De diferentes coisas
Iguais. Até que não
Acordemos mais,
Nem escovemos os dentes,
Nem comamos ou sintamos
Fome ou desejo ou tristeza.
Movimento eterno até que haja
Repouso eterno, inércia de ser.
II
Às vezes,
Penso que ganhei
De presente
Uma bomba,
E tudo o que
Cabe em mim
É o sentimento
De não saber
Ao certo
Como agradecer:
Eu sou um sorriso
Fraco e amarelo
terça-feira, janeiro 8
Ode Felina
I
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
Só há duas formas
De sentir verdadeiramente
Tudo o que há
E existe e nos cerca:
Saber tudo ou saber nada.
Não suponho meio termo,
Pois que no fim ambas
Coisas são a mesma coisa,
E o nome disso é não
Se preocupar. Eu não
Me preocupo, pois que
Já sei de tudo o que
Preciso saber: eu sei
Tudo, e isso me leva
A viver, a andar, a escrever
Como um animal maravilhoso,
Como o felino individual,
Descansado e indiferente
Sobre a mobília do mundo.
II
Haja a vida que haja,
É pouca, quero mais:
E vou deixar meu instinto
Copular com meu medo
Para que nada seja freio
E tudo seja impulso
Para quando eu perseguir
A realidade - seja ela
Um reflexo de luzes despidas
Nas paredes nuas do destino.
07.01.2013
terça-feira, dezembro 4
Ode aos Pastos
I
A vida,
Quando me encontro
Na natureza brutal do campo,
É tão mais simples, oh, cheiro
De bosta e pasto quente, oh,
Infindáveis moscas, mutucas,
Mosquitos e rãs, mormaço violento
Na barra do córrego, lama, grama,
Polens voadores que pousam em nós:
A vida,
Quando me encontro
Na natureza solitária,
Na natureza intocada,
Na natureza apática,
É tão mais simples...
A vida
Não passa
De repetição
Na natureza
Brutal do campo
- E a flor que colhi
Voltará à terra macia
Quando
Teus cabelos
Novamente
Não quiserem mais
Os meus regalos.
II
E assim eu vi a vida,
No despreparo da minha sabedoria,
Perdido entre árvores hostis,
Embrenhado em matos que arranham
A pele submissa, assim eu vi a vida:
Um peixe agonizando em minhas mãos,
Meus pés dentro do córrego
E toda a falta de coragem
Para devolver
Aquilo que à água
Pertence.
Um peixe apenas,
Um peixe que poderia
Ser eu, morrendo, sem ar,
Olhos estáticos de criatura
Inocente em minhas mãos...
E todos
Ao meu redor
- Inclusa tu, flores
Como uma coroa a te decorar -
Que nunca entenderiam
O que, exatamente, eu senti
Naquele momento
Eterno.
A vida,
Quando me encontro
Na natureza brutal do campo,
É tão mais simples, oh, cheiro
De bosta e pasto quente, oh,
Infindáveis moscas, mutucas,
Mosquitos e rãs, mormaço violento
Na barra do córrego, lama, grama,
Polens voadores que pousam em nós:
A vida,
Quando me encontro
Na natureza solitária,
Na natureza intocada,
Na natureza apática,
É tão mais simples...
A vida
Não passa
De repetição
Na natureza
Brutal do campo
- E a flor que colhi
Voltará à terra macia
Quando
Teus cabelos
Novamente
Não quiserem mais
Os meus regalos.
II
E assim eu vi a vida,
No despreparo da minha sabedoria,
Perdido entre árvores hostis,
Embrenhado em matos que arranham
A pele submissa, assim eu vi a vida:
Um peixe agonizando em minhas mãos,
Meus pés dentro do córrego
E toda a falta de coragem
Para devolver
Aquilo que à água
Pertence.
Um peixe apenas,
Um peixe que poderia
Ser eu, morrendo, sem ar,
Olhos estáticos de criatura
Inocente em minhas mãos...
E todos
Ao meu redor
- Inclusa tu, flores
Como uma coroa a te decorar -
Que nunca entenderiam
O que, exatamente, eu senti
Naquele momento
Eterno.
domingo, outubro 28
19.10.2012
I
Sentando sobre o dia que tende
Tristemente entre o cinza e o azul
E a luz de um sol escondido de dor,
Imagino minhas pequenas razões,
Minhas ideias porcas e visões-limites
Que ditam um mundo como me convém
E me deixam feliz por ser e ser simplesmente.
Não, por favor, não!
Não queiram me convencer
Que não devo me sentir bem,
Que não posso me sentir bem,
Que sou a borda da matéria
Entre o que é realidade e o que
É o fim de tudo. Não queiram
Me comprar com populismos,
Me banalizar a alma sensível
Com barulhos e cores e festas
Infindas - onde anda a razão
Inocente e eficaz que esse mundo
Raso costumava ter? Eu sou um rio
De margens selvagens, águas turvas
Intransponíveis - Eu sou um rio vasto
E corro na direção que me apetece
E não há o que me detenha a vontade.
II
Eu sou um filho
Da natureza e não
Quero ser um filho
Da natureza, pois
Me sinto sozinho...
Mas como pode
Haver solidão viva
No útero materno?
Eu sou então, enegrecido,
Um carvalho de raízes tão fortes
Que se expõe como artérias no chão,
Um carvalho de tronco tão robusto
Que me imagino de prata e ferro
- E resisto a solidão do campo residente,
E resisto a solidão do sol e da chuva
E resisto a mesmice que é existir em tédio
Total e repetições e desilusões de não poder
Esperar nem mais um segundo: sou também
Uma chuva forte que deseja cair profunda
Como um orgasmo de águas e desejos
De tempestades, o sabor dos ventos altivos,
A cor poderosa de todos os trovões possíveis.
Eu sou um filho da natureza, uma imperfeição
Perfeita e cheia de ímpetos e sonhos de mim mesmo:
Onde esse egoísmo chamado destino inevitável
Vai me levar?
Sentando sobre o dia que tende
Tristemente entre o cinza e o azul
E a luz de um sol escondido de dor,
Imagino minhas pequenas razões,
Minhas ideias porcas e visões-limites
Que ditam um mundo como me convém
E me deixam feliz por ser e ser simplesmente.
Não, por favor, não!
Não queiram me convencer
Que não devo me sentir bem,
Que não posso me sentir bem,
Que sou a borda da matéria
Entre o que é realidade e o que
É o fim de tudo. Não queiram
Me comprar com populismos,
Me banalizar a alma sensível
Com barulhos e cores e festas
Infindas - onde anda a razão
Inocente e eficaz que esse mundo
Raso costumava ter? Eu sou um rio
De margens selvagens, águas turvas
Intransponíveis - Eu sou um rio vasto
E corro na direção que me apetece
E não há o que me detenha a vontade.
II
Eu sou um filho
Da natureza e não
Quero ser um filho
Da natureza, pois
Me sinto sozinho...
Mas como pode
Haver solidão viva
No útero materno?
Eu sou então, enegrecido,
Um carvalho de raízes tão fortes
Que se expõe como artérias no chão,
Um carvalho de tronco tão robusto
Que me imagino de prata e ferro
- E resisto a solidão do campo residente,
E resisto a solidão do sol e da chuva
E resisto a mesmice que é existir em tédio
Total e repetições e desilusões de não poder
Esperar nem mais um segundo: sou também
Uma chuva forte que deseja cair profunda
Como um orgasmo de águas e desejos
De tempestades, o sabor dos ventos altivos,
A cor poderosa de todos os trovões possíveis.
Eu sou um filho da natureza, uma imperfeição
Perfeita e cheia de ímpetos e sonhos de mim mesmo:
Onde esse egoísmo chamado destino inevitável
Vai me levar?
sábado, outubro 27
Ode tristíssimo de um dia chuvoso
I
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
Assinar:
Postagens (Atom)