A treva inusitada
Que se abate sobre
Mim não é em nada
Discreta ou leve: é como
A essência da noite maior,
Como a própria alma da escuridão,
Irradiada de sombras bailarinas,
Superpopulada de estéticas insones...
Em nada
Do seu todo
Ela é leve ou discreta,
Ao contrário, é profunda
E natural e me condena sabiamente
Ao espanto de perceber que estou
Sozinho no escuro ao qual nenhuma
Luz pode dominar. Ah, essa treva é o prenuncio
Do breu total que está por vir e do qual
Eu não posso me livrar! A escuridão da qual
Ninguém pode fugir, a escuridão que vem para
Engolir a tudo e não se chama morte, porém ignorância.
Eu sou o ignorante maior que há, e saber isso é como
Uma carne se rasgando em mim e me causando
Hemorragias impossíveis de serem estancadas...
Não decifro,
Em meus gestos pequenos,
Utilidade qualquer para qualquer
Coisa que me cerque nesta realidade:
Se tomo em mãos uma pedra e penso
Como é possível que seja palpável e estranha
Como é, ou se cheiro uma flor ou observo
Um inseto que se perde em matas de um jardim
É esta a dor que há em mim e me desloca de tudo,
A dor que não me permite participar da felicidade
Alheia e que me dá desgosto em tudo aquilo
Que eu penso, dor inexplicável de não saber
Nada da matéria presente ou do espírito suposto.
Onde procurar? Dentro de mim mesmo
Existe um mar salgado que devora
Todas as possibilidades do que planejo
Como uma embarcação de marinheiros
Felizes por estarem retornando à casa,
Porém nunca chegarão: minhas perspectivas
Foram levadas ao fundo das ondas raivosas
Onde morreram, e em breve boiarão
Até a decomposição necessária
De tudo o que existe.
O que me resta?
Me cansam as suposições
E opiniões dos grandes gurus
E dos autoproclamados príncipes:
Escolho para mim,
Por ser meu direito inegável,
O silêncio como asas que me levem
A um lugar infinito e denso
Onde deus se chama
Serenidade...
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quarta-feira, junho 26
domingo, junho 23
Elegia de um bêbado ferido
Consciência absurda
De haver luz e matéria
No possível caminho:
Anseias por algo que não
Existe senão na tua doce
Capacidade de sonhar!
E te arrastas por ruas
Inimigas, seguido por sombras,
Lacaio e carrasco de ti mesmo,
Trôpego, atrativo ao olhar infame
Dos zombeteiros de plantão. Ai!
Ai, criatura solitária, onde foi que
Te machucaram com violências
Desnecessárias para que manques
Qual um aleijado de nascença?
Bem se vê que estás ferido, manchado
De sangue teu fato, respingado de urina
Teus sapatos de pobre. Nada é útil nesta
Rotina incessante que só pode acabar
Em morte, pois que a morte é o final
De todas as coisas: por isso é que bebes
Todas as bebidas entontecedoras do mundo
Com a voracidade de um rapaz virgem
Nas tetas de uma prostituta velha e má.
Estás bêbado! Bêbado de ti mesmo
Enquanto caminhas por estas ruas
Inimigas, enquanto tateias os bolsos
À procura do maço de cigarros amassado
Que já fumaste todo, mas não te lembras.
Bem se vê! Estás realmente ferido! Ai!
Levaste uma facada impiedosa e legítima
E do ferimento cruel jorrou purabebedeira!
Ai, as expectativas te traíram em um beco escuro
E com uma lâmina de fio preparado foi degolado
O teu futuro, todavia ainda assim tu vagas pelo mundo
Como quem esteve em uma festa até o sol raiar
E pretende voltar pra casa enquanto é guiado
Pela embriaguez de pés que dançaram a noite toda
E agora estão cansados, muito cansados e não sabem
Ao certo qual o caminho que devem seguir por seguir...
Estás ferido, mas deixe estar! Caminha o quanto podes,
Queima o todo de ti que a tua ainda hemorrágica persistência
Permitir, esgasse o mundo à força para encaixar todas as peças:
Só não morra antes da hora, caminhe! Quando o momento chegar
Sem mistério ou dificuldade, acharás um canto qualquer no espaço
Onde te deitarás enfim e deixarás, exausto, que as coisas se ajustem
Por elas próprias.
De haver luz e matéria
No possível caminho:
Anseias por algo que não
Existe senão na tua doce
Capacidade de sonhar!
E te arrastas por ruas
Inimigas, seguido por sombras,
Lacaio e carrasco de ti mesmo,
Trôpego, atrativo ao olhar infame
Dos zombeteiros de plantão. Ai!
Ai, criatura solitária, onde foi que
Te machucaram com violências
Desnecessárias para que manques
Qual um aleijado de nascença?
Bem se vê que estás ferido, manchado
De sangue teu fato, respingado de urina
Teus sapatos de pobre. Nada é útil nesta
Rotina incessante que só pode acabar
Em morte, pois que a morte é o final
De todas as coisas: por isso é que bebes
Todas as bebidas entontecedoras do mundo
Com a voracidade de um rapaz virgem
Nas tetas de uma prostituta velha e má.
Estás bêbado! Bêbado de ti mesmo
Enquanto caminhas por estas ruas
Inimigas, enquanto tateias os bolsos
À procura do maço de cigarros amassado
Que já fumaste todo, mas não te lembras.
Bem se vê! Estás realmente ferido! Ai!
Levaste uma facada impiedosa e legítima
E do ferimento cruel jorrou purabebedeira!
Ai, as expectativas te traíram em um beco escuro
E com uma lâmina de fio preparado foi degolado
O teu futuro, todavia ainda assim tu vagas pelo mundo
Como quem esteve em uma festa até o sol raiar
E pretende voltar pra casa enquanto é guiado
Pela embriaguez de pés que dançaram a noite toda
E agora estão cansados, muito cansados e não sabem
Ao certo qual o caminho que devem seguir por seguir...
Estás ferido, mas deixe estar! Caminha o quanto podes,
Queima o todo de ti que a tua ainda hemorrágica persistência
Permitir, esgasse o mundo à força para encaixar todas as peças:
Só não morra antes da hora, caminhe! Quando o momento chegar
Sem mistério ou dificuldade, acharás um canto qualquer no espaço
Onde te deitarás enfim e deixarás, exausto, que as coisas se ajustem
Por elas próprias.
sexta-feira, fevereiro 22
14.02.2013
I
Juro que não
Sei ao certo o nome
Deste sentimento
Triste e inútil
Que me enfadonha
O hálito e a vida
De tempos em tempos
- Ânsia suprema, tédio maior,
Desejo de morte, cenas de drama,
Nascimento da tragédia.
Talvez
Eu deva me recolher
À gruta silenciosa
Banhada de matos
Aos pés dos banhados
E lá viver com toda
A minha amarga solidão
Incurável e daninha:
Eu mesmo sou
Algum tipo de aborto sofrível
Da natureza rústica, e não tenho
Lugar nenhum nessa sociedade
Feliz por si
Só.
II
Queria viver uma vida
Que fosse como uma canção
Que queimasse nos lábios
Quentes de deus dormindo:
Queria ser uma nuvem
Que se perde e se desfaz
Ao som do vento
Ao nascer de um dia voraz.
Ah, eu queria viver como a regra quebrada!
Ah, eu quero viver como não sei o quê...
Ai, tudo é tão custoso nessa ilusão real!
Ai... tudo é um esforço que nunca compensa...
Deixa - eu de fato estou queimando
Nos lábios densos de deus dormindo.
Deixa, eu sei de todo o futuro de mim,
Sou teimoso, porém, por pura abstração:
Minha tristeza
É um sol
Se pondo.
Juro que não
Sei ao certo o nome
Deste sentimento
Triste e inútil
Que me enfadonha
O hálito e a vida
De tempos em tempos
- Ânsia suprema, tédio maior,
Desejo de morte, cenas de drama,
Nascimento da tragédia.
Talvez
Eu deva me recolher
À gruta silenciosa
Banhada de matos
Aos pés dos banhados
E lá viver com toda
A minha amarga solidão
Incurável e daninha:
Eu mesmo sou
Algum tipo de aborto sofrível
Da natureza rústica, e não tenho
Lugar nenhum nessa sociedade
Feliz por si
Só.
II
Queria viver uma vida
Que fosse como uma canção
Que queimasse nos lábios
Quentes de deus dormindo:
Queria ser uma nuvem
Que se perde e se desfaz
Ao som do vento
Ao nascer de um dia voraz.
Ah, eu queria viver como a regra quebrada!
Ah, eu quero viver como não sei o quê...
Ai, tudo é tão custoso nessa ilusão real!
Ai... tudo é um esforço que nunca compensa...
Deixa - eu de fato estou queimando
Nos lábios densos de deus dormindo.
Deixa, eu sei de todo o futuro de mim,
Sou teimoso, porém, por pura abstração:
Minha tristeza
É um sol
Se pondo.
sábado, junho 30
Quero tanto as tantas coisas impronunciáveis que me cercam!
Mas as quero tanto e são tantas que sua pressão incalculável
Me esmaga e me condensa e já não faço nada senão inércias.
Quem, em qualquer lugar, pra me ensinar a prática da vontade?
Quero tanto as todas coisas que não posso querer porque não
Me cabem, porque não me definem e não me sugerem nunca,
Mas as quero num egoísmo tamanho e mesquinho e vilanesco
Que então nunca jamais as poderia ter em mãos minhas tristes.
Quero tudo o que há, mas tudo o que há é peso sob meu ombro,
Tudo o que há me torna o grão mais minúsculo sustentando o sol
Mais imenso - a solidão humana de ser, a tristeza de existir e ver
E nada poder tocar. Voo magnífico da ave, paz discreta do peixe
Submerso, glória do felino indiferente a tudo que pode ignorar:
Porque é que não vim ao mundo com a vossa leve simplicidade?
sábado, junho 16
Às vezes
Tenho nojo
De tudo o que há
(E sei que há poeira
A me cobrir e
Sei que é
Feita da pele
E dos cabelos
Carcomidos
De toda essa gente
Que anda por aí
Me olhando feio
E apontando o dedo).
Eu me coço.
Eu me coço.
Eu me coço.
Quero estar
Bem longe de
Noventa e
Sete
Por cento
Da população mundial:
Isso tudo pode ser
Contagioso...
quinta-feira, novembro 25
781.844.494
O gosto ríspido das tuas palavras me agride. Corro
Assustado na direção (ambígua) de mim mesmo
E me escondo nos escombros do (sombrio) morro
Do meu Ego dilacerado - Orfeu no mar a esmo.
Quem sou eu para tentar te buscar de tão longa distância
- Caminho enegrecido pelas amarguras horrendas do destino -
Ainda mais sem olhar para trás (e bem, ainda muito me alucino
Com a falta tremenda dos teus olhos cravejados de infância).
Com que notas eu comporia uma canção que fosse triste o suficiente
Para explicar ao mundo o quão implacável e dilacerante foi tua ausência?
Que voz (eterna) não desafinaria (nó-na-garganta) por cantar tua carne sacra?
Como - sem te ver sorrir - ser suavemente bom ou grotescamente sorridente?
Hoje ajo como um devasso que (dentre outros pecados puros) até aprecia
O sofrido (chumbo pesado, venenoso) cofre cinza e vermelho onde (ele mesmo) se lacra.
Assustado na direção (ambígua) de mim mesmo
E me escondo nos escombros do (sombrio) morro
Do meu Ego dilacerado - Orfeu no mar a esmo.
Quem sou eu para tentar te buscar de tão longa distância
- Caminho enegrecido pelas amarguras horrendas do destino -
Ainda mais sem olhar para trás (e bem, ainda muito me alucino
Com a falta tremenda dos teus olhos cravejados de infância).
Com que notas eu comporia uma canção que fosse triste o suficiente
Para explicar ao mundo o quão implacável e dilacerante foi tua ausência?
Que voz (eterna) não desafinaria (nó-na-garganta) por cantar tua carne sacra?
Como - sem te ver sorrir - ser suavemente bom ou grotescamente sorridente?
Hoje ajo como um devasso que (dentre outros pecados puros) até aprecia
O sofrido (chumbo pesado, venenoso) cofre cinza e vermelho onde (ele mesmo) se lacra.
quinta-feira, novembro 11
26.587
Traço lento. A manhã transcorre
Reta,
Lúcida,
Perdida entre o vão das casas
E entre
O friso
Da Vida.
Escorro,
Desejoso
E suave
Por entre luzes brandas e frios metálicos
(Com gosto de navalha).
Tento extrair todo o calor
(Que há)
Do chão,
Cerco a vida por todos os lados na emboscada
Da poesia - da melancolia - da existência...
E o que sobra? O resto são pássaros
Incestuosos
E ervas (ralas)
A enfeitar
O meu não-jardim.
É a lama dos buracos
Que me lembra que estou (vivo).
Reta,
Lúcida,
Perdida entre o vão das casas
E entre
O friso
Da Vida.
Escorro,
Desejoso
E suave
Por entre luzes brandas e frios metálicos
(Com gosto de navalha).
Tento extrair todo o calor
(Que há)
Do chão,
Cerco a vida por todos os lados na emboscada
Da poesia - da melancolia - da existência...
E o que sobra? O resto são pássaros
Incestuosos
E ervas (ralas)
A enfeitar
O meu não-jardim.
É a lama dos buracos
Que me lembra que estou (vivo).
sexta-feira, outubro 22
9.631
O que morrerá de mim?
Ouvi dizer (as vozes miúdas)
Que só morrem os suicidas
Que não deixam cartas.
E eu, que busco me confessar,
O que, então, restará de mim?
Por que tento me explicar,
Se tanto sei do destino das coisas?
A morte galopa;
A rima é inútil como a musa.
O que - então - restará de mim?
(Ouvi dizer, as vozes miúdas,
Que somente partem, verdadeiramente,
Aqueles que fogem sem dizem aonde vão...)
Ouvi dizer (as vozes miúdas)
Que só morrem os suicidas
Que não deixam cartas.
E eu, que busco me confessar,
O que, então, restará de mim?
Por que tento me explicar,
Se tanto sei do destino das coisas?
A morte galopa;
A rima é inútil como a musa.
O que - então - restará de mim?
(Ouvi dizer, as vozes miúdas,
Que somente partem, verdadeiramente,
Aqueles que fogem sem dizem aonde vão...)
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