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quinta-feira, julho 12

Manto escuro da noite.
De longe, muito longe,
Presumo a lúcida aparição
De deuses inimagináveis,
De almas escandalosas
E fosfóreas, de naves
Ou ciências que expliquem
O que fazemos aqui.
A cena é a monotonia
Daqueles que pensam
E morrem de solidão.
Eu morro de solidão...

Mas é através das indagações
Da solidão da minha poesia,
Espontânea e despreparada,
Que vou dissecar a existência,
Que vou filosofar sem estudos
Acadêmicos e debater comigo
Mesmo, sendo mestre e aprendiz
Das artes mais sutis que existem
E que não podem ser dominadas
- Tudo em mim são opiniões!

Mas e daí? Tudo em todos
É opinião. Sortudo é quem
Tem fé e ignorância, ou sabedoria,
Em quantidades suficientes para estar
Certo neste mundo que não ama
Ninguém e não pede para ser amado
De volta... Ah, o mundo é uma puta!
Uma puta escandalosa e linda, linda,
Tão linda que chega a causar dores
E náuseas de ciúme! Quem não quer
O mundo? E ter o mundo é entender
O mundo, como se entende um amante
indiferente e distante de tudo que é nosso...

Pois é isto o mundo: um amante egoísta
Que procura satisfazer a si somente
Na voragem do sexo que não cessa
E que por fim cansa, no desagrado
Contundente de um carinho forçado
Que por fim machuca! Um amante vulgar
Que só sabe ofertar sua beleza obscena
E seus ataques de histeria e que, mesmo
Assim, nos fascina mais do que qualquer
Outra imagem coroada de castidade e luz.

Manto escuro da noite,
E em meus pensamentos eu me perco,
Porque tudo que penso são ondas,
E, nesta ressaca de marés sem fim,
Eu já nem sei sobre o que escrevia...

quarta-feira, junho 27

Flor,
Flor imensa
Que encontrei
Desabrochada
No pasto da vida,
Que lua te banhou,
Que orvalho tu bebeste
Para ser assim tão cândida
E tão resplandecente ao sol?

Perdida,
Perdida estiveste,
Já pronta, mas não
Colhida, já bem sabida
Mas não testada. Quais mãos,
Quais mãos tremeram ao te colher
Que nem sabias? Quais olhos ao te ver
Lacrimejaram todas as lágrimas, belíssimo
Orvalho gigante, cauteloso e despido dos dias?

És a camélia,
És a camélia mais pura,
Rainha coroada, flora sofrida!
Que raízes fortes as tuas, emaranhadas
Ao peso inacessível e bruto do vento anormal,
Do vento anormal e triste de te tentar arrancar e não,
Não, nunca ter sucesso! És a flor branca, o polido inverso
Da escuridão que julgavas tua, porém jamais te pertenceu.
És a flor dos dias, dos dias que nunca nasceram e nunca morrerão.

Pétala,
Pétala por
Pétala te farei
Minha, pois que sou
O jardineiro persistente,
O arado inabalável e delicado,
A sensação de querer e libertar:
Que a tua presença, ornamental, lúcida,
Não fuja dos meus olhos, mas possa sempre voltar.

sábado, junho 16


Pensar
Na morte
Me atordoa...
Inexistir,
Que grande
Anedota!

O conforto
Vem da ciência
Que diz
Que este
É o destino
Universal:

O nada
É o fardo
De tudo.

Surgiste
– Bela e adversa –
Como a chuva
Que só existe
Nos outonos
Mais arrogantes,
Muito embora,
Lara,
Teus cabelos
– Loucos teus
Cabelos, divinos
Teus cabelos –
Sejam o reflexo
Mais sagaz
Do mais sagaz
Dos verões.

Teus olhos
– Olhando –
Tem a cor
Do mar
Do meio
De março...

quinta-feira, abril 7

*

Há algo de mim perdido e um pouco vago, como estas ondas
De cores mortas que a praia apresenta, ou solitário como estas
Aves tristes que voam em bandos. O que resta, final das contas,
É sensibilidade atravessada na garganta, fardo pesado nas costas...

Olha o oceano da vida. Como é cinza o céu acima deste céu. Anda,
A chuva não tarda. Não nos cabe nada senão a resignação dura e fria;
Furtaremos, pois, o sol que nos for permitido furtar durante o parco dia
– Quando este brilhar – e, de resto, nós não exigiremos, pois tudo é nada.

Este raio ameno de vida que sou seguirá, inda perdido, mas purificado,
Talvez parte do corpo próprio do cenário que compõe a tal consciência,
Talvez parte da própria areia da praia (e a areia da praia, a quem pertencia?).

Que nós não devemos, então, atestar aos decoros da ansiedade e do pecado
– Porque pecado verdadeiro é ter medo, raciocinar é coisa decadente e séria...
E da tal ganância eu nem falo, pois é a ganância a verdadeira e única miséria.

quinta-feira, novembro 25

781.844.494

O gosto ríspido das tuas palavras me agride. Corro
Assustado na direção (ambígua) de mim mesmo
E me escondo nos escombros do (sombrio) morro
Do meu Ego dilacerado - Orfeu no mar a esmo.

Quem sou eu para tentar te buscar de tão longa distância
- Caminho enegrecido pelas amarguras horrendas do destino -
Ainda mais sem olhar para trás (e bem, ainda muito me alucino
Com a falta tremenda dos teus olhos cravejados de infância).

Com que notas eu comporia uma canção que fosse triste o suficiente
Para explicar ao mundo o quão implacável e dilacerante foi tua ausência?
Que voz (eterna) não desafinaria (nó-na-garganta) por cantar tua carne sacra?

Como - sem te ver sorrir - ser suavemente bom ou grotescamente sorridente?
Hoje ajo como um devasso que (dentre outros pecados puros) até aprecia
O sofrido (chumbo pesado, venenoso) cofre cinza e vermelho onde (ele mesmo) se lacra.

quinta-feira, novembro 11

12.131

Atuação
Inata
Destes
(Símios)
Me arrebenta. Quero uma
Liberdade
Campesina,
Quero décimo-terceiro salário,
Quero o saleiro
Cheio.
Quero tragédia
E dor (alheia),
Quero pouco
Mais
Do
Que
A rima.

(Quero extrair mel
Do sol que brilha
Amarelo sobre o mar
Do mundo azul e verde
De teus olhos perdidos)

26.587

Traço lento. A manhã transcorre
Reta,
Lúcida,
Perdida entre o vão das casas
E entre
O friso
Da Vida.

Escorro,
Desejoso
E suave
Por entre luzes brandas e frios metálicos
(Com gosto de navalha).
Tento extrair todo o calor
(Que há)
Do chão,
Cerco a vida por todos os lados na emboscada
Da poesia - da melancolia - da existência...

E o que sobra? O resto são pássaros
Incestuosos
E ervas (ralas)
A enfeitar
O meu não-jardim.

É a lama dos buracos
Que me lembra que estou (vivo).

terça-feira, novembro 2

324

Que poder sinto fluir
Em meu olho
- Olho que tudo vê,
Olho que vê no escuro -
Tão de repente e tão
(Retumbante)
(E) vivo(!)?

Em que pulso
Eu pulso?
Eu quero
O poder
(Impenterável)
Do cosmo.