sexta-feira, outubro 22

9.631

O que morrerá de mim?
Ouvi dizer (as vozes miúdas)
Que só morrem os suicidas
Que não deixam cartas.

E eu, que busco me confessar,
O que, então, restará de mim?
Por que tento me explicar,
Se tanto sei do destino das coisas?

A morte galopa;
A rima é inútil como a musa.
O que - então - restará de mim?

(Ouvi dizer, as vozes miúdas,
Que somente partem, verdadeiramente,
Aqueles que fogem sem dizem aonde vão...)

segunda-feira, outubro 18

76.000

Eu não me preocupo mais.
Morra (eu) ou não,
Torne (se) a verdade
- Ou não -
Aquilo que pensei, escrevi,
Senti ou concluí,
Tanto faz...
O Big Bang
Resultou em luz e magnetismo
E impostos e menstruações e calor
- Muito calor - E estrelas e livros
(De filosofia e poesia)
E sentimentos.
Tanto faz...
O Big Bang deu origem a tudo,
Menos
A algum sentido.
Não existe tal sentido.

Vejo - e prefiro ver -
Formas escondidas nas formas.
Há um macaco sorrindo nas manchas
Da minha desgastada
Toalha de banho,
Pendurada na porta de meu quarto
(E nas ondas da madeira
Da porta de meu quarto,
Um barco escuro desbrava
O lago plácido do anoitecer).

Eu não me preocupo mais.
Minha vida quase não existe
Diante da grandeza do universo
- E sei que, um dia, não passarei
De eletrecidade - desprendida - azul
Como as estrelas mais brilhantes.

É isso que quero e que faço
Da luz que presencio:
A busca apaixonada e minuciosa
De coisas nas coisas.