I
Sentando sobre o dia que tende
Tristemente entre o cinza e o azul
E a luz de um sol escondido de dor,
Imagino minhas pequenas razões,
Minhas ideias porcas e visões-limites
Que ditam um mundo como me convém
E me deixam feliz por ser e ser simplesmente.
Não, por favor, não!
Não queiram me convencer
Que não devo me sentir bem,
Que não posso me sentir bem,
Que sou a borda da matéria
Entre o que é realidade e o que
É o fim de tudo. Não queiram
Me comprar com populismos,
Me banalizar a alma sensível
Com barulhos e cores e festas
Infindas - onde anda a razão
Inocente e eficaz que esse mundo
Raso costumava ter? Eu sou um rio
De margens selvagens, águas turvas
Intransponíveis - Eu sou um rio vasto
E corro na direção que me apetece
E não há o que me detenha a vontade.
II
Eu sou um filho
Da natureza e não
Quero ser um filho
Da natureza, pois
Me sinto sozinho...
Mas como pode
Haver solidão viva
No útero materno?
Eu sou então, enegrecido,
Um carvalho de raízes tão fortes
Que se expõe como artérias no chão,
Um carvalho de tronco tão robusto
Que me imagino de prata e ferro
- E resisto a solidão do campo residente,
E resisto a solidão do sol e da chuva
E resisto a mesmice que é existir em tédio
Total e repetições e desilusões de não poder
Esperar nem mais um segundo: sou também
Uma chuva forte que deseja cair profunda
Como um orgasmo de águas e desejos
De tempestades, o sabor dos ventos altivos,
A cor poderosa de todos os trovões possíveis.
Eu sou um filho da natureza, uma imperfeição
Perfeita e cheia de ímpetos e sonhos de mim mesmo:
Onde esse egoísmo chamado destino inevitável
Vai me levar?
domingo, outubro 28
sábado, outubro 27
Ode tristíssimo de um dia chuvoso
I
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
Recoberto
De máscaras de prazer,
Entranhado, na verdade,
Em uma catatonia sentimental
Sem sentido, fujo do meu lar
Em uma tarde cinzenta
Galopando cavalos de vento.
O que é isso que me toma
E me força a olhar o chão enquanto
Ando nas ruas de pessoas apressadas?
O que é isso?
Não faço a barba por dias
E me refugio da dor no fato
De haverem cheiros e pelos
De humano em meu corpo:
Eu estou mudando de pele?
II
Encontro abrigo contra o clima
De mim mesmo em uma construção
Abandonada qualquer, e logo começa
A chover. Tenho fome. Uso drogas
De tristeza. Eu sou um abandonado
Qualquer: a quem recorrerei, senão
Ao deus que sou, quando o dilúvio começar?
III
A água que desceu
Do céu
Não desceu
Como água
Simplesmente:
Era um corpo
Único, horizonte
E firmamento,
Uma tonelada
De lágrimas
De deuses
Esquecidos.
Das abas do telhado
Do meu refúgio inacabado
Tamborilam gotas mais lentas
E mais grossas. Tenho sono.
Tenho sono e fome e a umidade
Parece me queimar. Fumo mais,
Esperançoso de acordar, mas a fumaça
Só sabe me fazer chorar os olhos.
Eu durmo, triste, e dormirei
Até alguma goteira
Me rachar a cabeça.
IV
Penso
Ter sonhado
Alguma vez
Com algo de pureza
Palpável,
Com perfumes apaziguadores
E estéticas completamente
Harmoniosas, mas quando tudo
Vai bem surge a dor como uma faca
Preta cravada no estômago.
Eu sou um tarado
Completamente desesperado
E nervoso e onipotente
Devorador do meu próprio
Sêmen - eu sou Cronos
Aborrecido em sua prisão
De memórias imortais.
V
Quando surgir a luz
Tudo estará mais claro,
Mas nada será óbvio:
É função da chuva
Limpar as mentes,
É função do sol
Cegar os olhos.
E a verdadeira
Ilusão, quem é
Que revela?
Perdi a vida
Procurando formas
Em nuvens.
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