domingo, dezembro 9

30 de Novembro de 2012

I

Quero fugir
Deste planeta,
Quero fugir
E me encontrar,
Quero fugir
Como quem morreu.

Quero fugir:
Serei fantasma
Taciturno,
Tecido das sombras
Do vento
(E a única
Gaiola que há
É o medo).

Quero fugir, e quando quero,
Fujo: e quando eu fugir
Não me verão
Senão na saudade
Que causarei
Como um defunto
Causa.

terça-feira, dezembro 4

Ode aos Pastos

I

A vida,
Quando me encontro
Na natureza brutal do campo,
É tão mais simples, oh, cheiro
De bosta e pasto quente, oh,
Infindáveis moscas, mutucas,
Mosquitos e rãs, mormaço violento
Na barra do córrego, lama, grama,
Polens voadores que pousam em nós:

A vida,
Quando me encontro
Na natureza solitária,
Na natureza intocada,
Na natureza apática,
É tão mais simples...

A vida
Não passa
De repetição
Na natureza
Brutal do campo
- E a flor que colhi
Voltará à terra macia
Quando
Teus cabelos
Novamente
Não quiserem mais
Os meus regalos.


II

E assim eu vi a vida,
No despreparo da minha sabedoria,
Perdido entre árvores hostis,
Embrenhado em matos que arranham
A pele submissa, assim eu vi a vida:

Um peixe agonizando em minhas mãos,
Meus pés dentro do córrego
E toda a falta de coragem
Para devolver
Aquilo que à água
Pertence.

Um peixe apenas,
Um peixe que poderia
Ser eu, morrendo, sem ar,
Olhos estáticos de criatura
Inocente em minhas mãos...

E todos
Ao meu redor
- Inclusa tu, flores
Como uma coroa a te decorar -
Que nunca entenderiam
O que, exatamente, eu senti
Naquele momento
Eterno.